CD e DVD 'Caravanas - Ao Vivo”, de Chico Buarque, registra última turnê do artista

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
19/11/2018 às 16:59.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:54
 (Leo Aversa/Divulgação)

(Leo Aversa/Divulgação)

O “show do ano”, que ganhou uma versão física em CD e DVD agora? Bem, a esta altura do campeonato, talvez Chico Buarque esteja acima dessas categorias (meio competitivas) típicas do mundo do entretenimento, vamos combinar. Se bem que, na última semana, Chico levou pra casa nada menos que dois prêmios Grammy Latino, por melhor álbum de música popular brasileira e melhor canção em língua portuguesa. E, pensando melhor, a última vez que tivemos a oportunidade de encarar tanto um novo disco, como uma nova turnê de Chico tinha sido no distante biênio 2011/2012.

Em pensando melhor ainda, podemos nos dar ao luxo de não considerar Chico na ativa algo realmente urgente e digno de louvação? Podemos mesmo dispensar a audição de versos tão magníficos quanto os da faixa título? Trata-se de um momento tão genial quanto qualquer outra obra prima que ele tenha feito nos anos 1960 ou 1970.

Ou seja: o show, o disco, são mesmo um must. Talvez um item ainda mais necessário quando pensamos que o Brasil mudou bastante desde que ele deu o pontapé inicial da turnê aqui em Belo Horizonte, em dezembro de 2017. Existiu um infernal 2018 entre uma coisa e esta que desembarca agora nas lojas e plataformas digitais –o registro da gravação feita em abril, no Tom Brasil, em São Paulo.

Afinal, quando diante de um país politicamente fervido, confuso, agitado, é ao compositor de “Vai Passar” que ainda recorremos, seja nos versos, seja nas suas falas, seja com sua presença, é impossível não notar o peso que “Caravanas– Ao Vivo” possui para a cultura nacional nestes tempos estranhos, especialmente para...bem, a cultura nacional.

Repertório

Pois bem: vamos ao que faz deste material algo que pode servir como colo, conforto e confirmação de que “amanhã vai ser outro dia”. Assistindo e ouvindo agora, é difícil não pescar algumas pistas espalhadas pela escolha do repertório.

É difícil ouvir canções como “Geni e o Zepelim”, por exemplo, e não conectar tanto sua presença em um setlist atual de Chico, quanto sua própria força, com as discussões nos dias que correm. Afinal: a “libertina” moça, tachada de maldita, não existe mais no nosso tecido social?

“Todo Sentimento”, com os versos “Talvez num tempo da delicadeza/ Onde não diremos nada/ Nada aconteceu”, serve a que propósito? Idem com a maravilhosa “A Moça do Sonho”, parceria com Edu Lobo, que fala de “Um lugar deve existir/ Uma espécie de bazar/ Onde os sonhos extraviados/ Vão parar/ Entre escadas que fogem dos pés/ E relógios que andam para trás”?

Em suma: é hora de ouvir e reouvir Chico Buarque, talvez como remédio para ajudar a curar tanto amargor que esse mundo nos trouxe, talvez como um mapa pra nos reencontramos. “Caravanas – Ao Vivo” é excelente oportunidade.

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