Centro Cultural UFMG celebra 25 anos de atuação com reforma de prédio histórico

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
03/05/2014 às 08:28.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:24
Centro Cultural da UFMG será um dos palcos do 17º Festival de Verão (Wesley Rodrigues)

Centro Cultural da UFMG será um dos palcos do 17º Festival de Verão (Wesley Rodrigues)

Em meio a tantos prédios pichados e mal cuidados do hipercentro da capital, o edifício localizado na esquina formada pela rua da Bahia e avenida Santos Dumont chama a atenção pela beleza arquitetônica. Após três anos de reforma, o edifício Alcindo da Silva Vieira ganhou um acabamento compatível com sua relevância para a vida cultural dos belo-horizontinos.    É ali que funciona o Centro Cultural da UFMG, que acaba de completar 25 anos. Um local a ser aproveitado não apenas por estudantes universitários, mas por toda a população que transita pela região. “Procuramos resgatar o sentido original, que é o de ser um espaço de contato entre a universidade e a população”, afirma Maria Inês de Almeida, diretora do lugar há pouco mais de três anos.    Segundo ela, foi feita uma pesquisa com pessoas que frequentam o entorno da Praça da Estação para conhecer as expectativas sobre o espaço “que tem a obrigação de acolher todas as culturas”. “Aqui na região temos contato com grafiteiros, comerciários, trabalhadores que vivem na periferia, com a prostituição, o tráfico de drogas, salões de beleza, judeus, árabes, viajantes. Uma imensa diversidade”, diz Inês, que orientou a equipe no sentido de não solicitar mais documentos aos frequentadores. E, ainda, que a mesa que ficava exatamente na porta fosse colocada em um espaço interno – assim, o belo hall original se tornou convidativo.    Desta maneira, exposições, apresentações musicais e cênicas, cineclube, debates, internet gratuita e acesso a muitos projetos estão à disposição de qualquer pessoa sete dias por semana. “Não temos compromisso com lucro e produtividade. O que importa é valorizar a criação e a cultura”.   Público que frequenta o espaço é bem heterogêneo   Além da fachada e da estrutura do edifício histórico, o Centro Cultural da UFMG ganhou iluminação especial nas galerias dedicadas a exposições – algo que facilita o trabalho dos curadores e a visualização dos visitantes. Mas, mesmo com as obras, o espaço nunca deixou de abrir suas portas. Um de seus serviços mais procurados é o telecentro, onde é possível usar internet gratuitamente por uma hora. Para isso, basta o documento de identidade.   “Recebemos de 35 a 40 pessoas/dia. Quem mais procura são os moradores de rua e as pessoas que costumam passar o dia na praça (Ruy Barbosa). Eles vêm para mexer especialmente no Facebook e em redes sociais”, conta Decio dos Santos, responsável pelo telecentro.    “Houve uma época em que éramos a principal referência do centro, em que tínhamos shows às sextas-feiras e sempre ficava cheio, chegando a 400 pessoas na plateia. Hoje não é mais assim, porque, com o passar do tempo, a cidade foi ganhando novos centros culturais”, explica o vice-diretor Marcus de Queiroz.    Mira!   O maior orgulho da diretora Maria Inês é a exposição “Mira!”, que reuniu obras contemporâneas de arte indígena da América do Sul e atraiu uma pequena multidão ao local, mesmo tendo sido realizada na época da Copa das Confederações (ou seja, dos protestos). “Mesmo com o trânsito caótico e a fachada cheia de tapumes, conseguimos atrair uma atenção enorme”, diz ela, que espera uma ampliação nos projetos educacionais dentro do Centro Cultural.   Sambista preserva memória de tipografia   Há quase três anos, uma sala do Centro Cultural passou a abrigar o Museu Vivo da Memória Gráfica. Ali dentro, em meio a máquinas da década de 60, “seu” Zé do Monte, 75 anos, realiza impressões da maneira mais clássica possível – juntando letrinha por letrinha de metal. Para um trabalho que levaria 15 minutos para ser realizado no computador, ele chega a investir dois dias de labuta.    “É um trabalho que mantém a tradição e mostra para as pessoas como era feita a impressão desde os tempos de Gutenberg”, afirma Zé do Monte, que se aposentou no Exército há duas décadas e passou a investir parte de sua vida na tipografia. Foi dono de uma gráfica por 15 anos, lecionou para jovens infratores por 12 anos e, há dois, mantém a memória no Centro Cultural. “Enquanto tiver saúde, vou trabalhar aqui”.    Integrante da Velha Guarda do Samba de BH (que utiliza há anos o espaço para ensaios e shows), Zé do Monte já foi protagonista do documentário “Memórias e Improvisos de um Tipógrafo Partideiro”.   Parceria   Outro projeto abrigado pelo Centro Cultural é “Memória Feita à Mão”, um ateliê aberto dedicado à preservação dos figurinos dos espetáculos do Grupo Galpão. Estudantes de Moda, Artes Cênicas e Conservação e Restauro trabalham no processo. Até o momento, os figurinos de seis peças já foram trabalhados no projeto. Qualquer pessoa pode conferir o delicado processo.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por