"Chicólatras" homenageiam o ídolo que completa 70 anos na próxima quinta

Chico Buarque é um gato! E aqui, a afirmativa tem sentido literal. Mesmo aos 70 anos, que completará na próxima quinta-feira (19), o charmoso cantor, compositor e escritor continua com tudo em cima especialmente no quesito fama. O gato em questão, carioca da gema também, foi batizado com o nome do ídolo e tem até página no Facebook – uma das provas da popularidade do artista carioca.

Com humor. Pela internet, é assim que os “chicólatras” de várias gerações – expressão para outro perfil de rede social – se voltam para a obra de Chico. Mas é tudo homenagem, garantem eles.

Até agora, o que se sabe sobre a assoprada de velas mais aguardada do ano entre o reduto de notáveis da MPB é que Chico Buarque está em Paris, fugindo da Copa do Mundo que acontece no seu berço. Chico pode sair da Copa, mas outra copa não quer sair dele.

Um presentinho para o “moço dos olhos cor de ardósia”, conforme a polícia o denominou em ficha corrida certa vez: na última quarta-feira, o nome dele entrou em campo e conquistou a primeira fase da World Cup of Literature (WCL), realizada pelo Three Percent, programa da Universidade de Rochester, nos EUA, voltado à literatura estrangeira.

O projeto recorre às traduções no mercado editorial americano, apenas 3% do total de publicações. Nele, livros traduzidos disputam preferência de leitores e críticos. E é entre eles que está “Budapeste”, livro de Chico que chegou para os gringos e que levou o Prêmio Jabuti de melhor livro de 2003 cá entre nós.

No perfil do “Face” chico.buarque.gato a homenagem é diferente. Entre as postagens, Chico, o gato de olhos azuis aparece diante de um bolo dedicado com “Todo o Sentimento” para o ídolo de seus donos.

Do siamês peludo, para o Chico, com açúcar e com afeto

Chico Buarque é um gato siamês mestiço de nove anos. Ainda sem desmamar, o peludo “vinha sem muita conversa, sem muito explicar” por uma rua carioca e se escondeu numa casa. A vizinha desta casa, a veterinária Juliana Ferreira e o então namorado, o fotógrafo, Max Ferreira, alertados pela moradora da casa escolheram o bichano para chamar de “meu guri”.

“Ela sugeriu o nome por causa da cor dos olhos. Um equívoco, pois os olhos do chico são verdes (às vezes ardósia). Sempre fui contra colocar o nome de gente em bicho. Mas a homenagem já estava feita e, então, criei a página”, lembra Max, que nasceu em Matias Barbosa, na Zona da Mata, e que há 15 anos vive no Rio.

Chico Buarque não gosta de fazer o social e, neste ponto, até que ele lembra o artista setentão do qual seu nome foi inspirado. Meio sarcástico, sem muita ligação afetiva com nada, viu como “mãe” a fofa Julie, uma poodle toy que já morava com Juliana. “Ela nunca tinha dado cria e produziu leite para ele”, lembra Max.

Hoje, Julie está com 12 anos e Chico, dentro do possível, é um gato mais sociável. Como diz outra música do compositor, “Quem te viu, quem te vê”, heim, Chico? “Nós, gatos, já nascemos pobres/ Porém, já nascemos livres” – os versos de “História de Uma Gata”, do musical “Os Saltimbancos”, de 1977, produzido e dirigido por Chico Buarque explicam tudo.

Max e Juliana têm toda discografia do ídolo. As preferidas dele são as músicas “de veia política”. Para Juliana, são as mais românticas como “Pedaço de Mim” e “Trocando em Miúdos”. Alguma com humor? Claro! “Feijoada Completa”.

Mas será que realmente cabe humor em Chico Buarque? O letrista e especialista em Educação Musical Ricardo dos Reis Oliveira garante que sim. “Ele consegue ser engraçado e admirável”. Oliveira tem percorrido centros culturais de BH com a palestra “A Arte de Compor Canções” na qual a análise da obra de Chico ocupa boa parte dos debates.

Na monografia abordei canções como “Vai Passar”, de Chico e Francis Hime (1984/84). Na libertária canção, o compositor usa “paralelepípedo”, considerada uma palavra grande demais para se colocar numa música. “Levei essa monografia para o Francis Hime, num show. Durante a apresentação, ele disse rindo: ‘Só mesmo o Chico para colocar essa palavra numa música’, lembra.

Difícil é escolher a mais bonita das músicas

“Gente Humilde” é a canção de Chico Buarque mais regravada, conforme levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) divulgado no início deste mês.

A música que foi interpretada por cantores como Angela Maria e Renato Russo é seguida na listagem por “Anos Dourados”, “Retrato em Branco e Preto” e “Beatriz”. O Ecad fez a pesquisa com base nas 502 obras do compositor e em 930 regravações que tem cadastradas. Entre as “mais tocadas” nos últimos cinco anos, o escritório aponta “Iolanda” (em parceria com o cubano Pablo Milanés).

Para alguns fãs, o resultado talvez pareça ignorar alguns queridos sucessos de Chico. Há alguns meses, o perfil do músico numa rede social perguntou aos fãs: “Entre as composições de Chico, qual a sua preferida?”. “Isso é a mesma coisa que perguntar para uma mãe qual filho ela prefere. São várias”, justificou uma fã apoiada por 410 “likes”.

A lista com cerca de 3.800 sugestões apontadas pelos internautas traz “nas cabeças”, a faixa-título “Construção” (1971). O disco foi feito um ano após o retorno dele do exílio na Itália.

“Construção” é considerada obra prima do artista pela riqueza melódica perfeitamente associada à temática dos versos sobre a exploração do trabalho. A música foi curtida mais de uma centena de vezes no perfil.

Perfil brinca com curiosa capa do primeiro disco

“Chico Buarque Disse” é outro perfil bem-humorado do Facebook em homenagem a Francisco Buarque de Hollanda. Criado pelo estudante de Direito paraense, João Egídio dos Santos Soares, 20 anos, o perfil conta com mais de 164 mil curtidas. Nele, é usada e abusada a capa do primeiro disco de Chico Buarque, em que ele, lá pelos 21 anos, aparece com a cara sorrindo e “meio bolada”. “Vi aquela imagem, sabia que era do disco dele. Tive a ideia de criar várias formas de encaixar frases na imagem”. “Este meme estourou em julho do ano passado. Tivemos post com mais de 50 mil curtidas”, aponta Cauã Nouals, 18 anos, estudante de Publicidade, que colabora com as postagens. Cauã diz que todo meme tem um período curto de vida, mas que hoje o número de likes do perfil cresce aproximadamente 70% por semana.