Cineasta diz que coletivo Fora do Eixo pratica "escravidão pós-moderna"

Folhapress
08/08/2013 às 18:23.
Atualizado em 20/11/2021 às 20:48

SÃO PAULO - A cineasta Beatriz Seigner publicou ontem à noite um texto em seu perfil no Facebook em que questiona a atuação do coletivo de produtores e agentes culturais Fora do Eixo, acusando o grupo de não repassar cachês a ela e a outros artistas.

No longo relato, que levantou debates nas redes sociais sobre o coletivo, a diretora também afirma que pessoas que moram na Casa Fora do Eixo, espécie de QG do grupo situado no bairro da Liberdade, em São Paulo, são submetidas a uma situação de "escravidão (pós)moderna", já que, segundo ela, os moradores "abdicam de salários por meses e anos" e "não têm um centavo ou fundo de garantia para sair da rede" ao trabalhar para o grupo.

No texto, Seigner diz ter sido convidada pelo coletivo a participar de debates em diversas cidades do país sobre seu filme "Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano", em 2012. Segundo ela, o Fora do Eixo lhe prometeu que organizaria a exibição do longa em cineclubes ligados ao coletivo, repassando a ela pagamentos com o "cubo card", uma moeda simbólica do Fora do Eixo. "Nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com 'menu de serviços' onde esta moeda é trocada", disse Seigner em seu texto.

A diretora também afirma que o coletivo tentou estampar sua logomarca nos cartazes do filme. "Eu disse que o filme havia sido feito sem nenhum recurso público e que a cota mínima para um patrocinador ter sua logomarca nele era de 50 mil reais. Eles desistiram", escreveu a cineasta.

Seigner ainda acusa o coletivo de ter lhe repassado um cachê pela participação em um debate sobre o filme em uma unidade do Sesc no interior de São Paulo só nove meses após o evento. Citando a participação de Pablo Capilé e do jornalista Bruno Torturra, da Mídia Ninja, no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, Seigner diz que, segundo Capilé, o Fora do Eixo arrecada entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões por ano. "Quanto disso é redistribuído para os artistas que se apresentam na rede?", questiona ela. Procurados pela reportagem, nem a diretora nem Capilé ligaram de volta.

Também pelo Facebook, integrantes do Fora do Eixo rebateram as acusações. Em seu perfil, Rafael Vilela escreveu que "o texto de Beatriz é uma trama roteirizada com inúmeras inverdades" sobre o coletivo. "Em minhas memórias lembro dela [Beatriz Seigner] assustada, assim como bem descreve em seu post-longa-metragem baseado em fatos reais e em percepções distorcidas", escreveu Vilela. Procurado pela reportagem, ele também não foi localizado até o início da tarde de hoje.

Outra acusação

O músico Daniel Peixoto também acusa o Fora do Eixo por não ter lhe repassado o dinheiro das vendas de seu disco, lançado com o selo do coletivo. O compositor cearense alega que a rede dirigida por Pablo Capilé cometeu um erro ao registrar as músicas em nome de outra banda, fazendo com que Peixoto não recebesse os direitos autorais distribuídos pelo Ecad. O músico também acusa o Fora do Eixo de ter ficado com mais de 300 CDs seus sem vendê-los.
Um dos integrantes do Fora do Eixo, Felipe Altenfelder, publicou texto na internet desmentindo as acusações de Peixoto.

"Não acho que eles estejam querendo me roubar, mas é uma negligência. Depois que o Fora do Eixo cresceu, eles perderam o controle. Eles fazem uma matemática errada, mentem. Eles não mostram nenhum documento", disse Peixoto.
"Se tivessem me dado a atenção devida, não teria chegado nesse ponto. Me deixaram no vazio várias vezes, sem uma resposta, ficavam me cozinhando. Não é só a grana que está em jogo, mas acho que eu falando encorajo outros artistas que têm queixas contra o Fora do Eixo a se manifestar", completou o músico.
    

 

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