Cinebiografia de Getúlio Vargas estreia nesta quinta-feira

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
01/05/2014 às 11:50.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:23
 (Bruno Veiga/Divulgação)

(Bruno Veiga/Divulgação)

“O fato de Getúlio (Vargas) não saber, não o torna menos culpado”. A observação do cineasta João Jardim, diretor da cinebiografia sobre o polêmico presidente brasileiro, “em cartaz” a partir desta quinta-feira (1º) em cerca de 200 salas do país, acaba ecoando na política atual. Jardim assume esse desejo de usar, em “Getúlio”, o passado para falar da política de hoje, traçando um paralelo entre a crise que culminou no suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1954, e os escândalos recentes, como o da Petrobras.   “É interessante perceber que as práticas políticas continuam as mesmas de 60 anos atrás. As versões ganham um peso maior que o próprio fato, sempre com alguém do segundo escalão se locupletando do poder em benefício próprio. Que tipo de organização é essa que continua justificando os seus atos colocando questões políticas acima da ética?”, indaga o realizador.   Com Tony Ramos no papel do governante gaúcho, “Getúlio” retrata os últimos 16 dias de Vargas, a partir da tentativa de assassinato de um de seus opositores, Carlos Lacerda. Ainda hoje persistem muitas versões sobre o crime e João Jardim expõe algumas. O denominador comum é um presidente traído por seus aliados mais próximos.   “A oposição se aproveitou dessa tragédia para derrubar Getúlio, tentando provar que ele era culpado. Não que fosse inocente, muito pelo contrário. Como alguém lá em cima fica sem saber desses absurdos? Deveria saber. O problema tem a ver com as leis que regem o sistema do funcionalismo público”, analisa Jardim.   Miopia   Para o diretor, não é uma questão que, nos dias atuais, afeta apenas a pessoa de Dilma Rousseff. “Isso vem acontecendo há muitos anos em todas as esferas. É uma miopia apontar uma pessoa quando, na verdade, somos nós”. Jardim observa que depositar culpa sobre “uma pessoa tira o foco do que interessa: os valores de uma sociedade”. E embora, no filme, promova uma espécie de redenção de Vargas, o cineasta acredita que a imagem final não é a de um “homem bonzinho”, assinalando que o próprio suicídio foi uma estratégia política.   “Ele estava pensando no seu legado, na posterioridade. Como escreveu na carta que deixou, queria sair da vida para entrar para a História”, sublinha. Na trama, Jardim deixa claro que Vargas já concebia a sua morte dias antes, como na sequência em que pergunta ao filho médico (Lutero) onde ficava exatamente o coração.   João Jardim se tornou conhecido pelos documentários “Pro Dia Nascer Feliz” e “Lixo Extraordinário”. “Getúlio”, cumpre dizer, foi quase todo filmado dentro do Palácio do Catete, no Rio, e inclui, no elenco, Drica Moraes (Alzira Vargas) e Alexandre Borges (“Corvo”/Lacerda).

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