Cinema brasileiro vive segunda onda de filmes espíritas

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
03/06/2018 às 15:49.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:24
 (andré cherri/divulgação)

(andré cherri/divulgação)

 O ator mineiro Danton Mello não sabia quem era Zé Arigó quando foi convidado a viver o médium no cinema. “Já tinha ouvido falar de Dr. Fritz, mas como nasci em 1975 e Arigó morreu quatro anos antes, possivelmente a entidade estava incorporando em outros médiuns”, puxa da memória. Rodado no início do ano, em Congonhas, terra natal de José Pedro de Freitas– o Zé Arigó –, o longa dirigido por Gustavo Fernández faz parte de uma segunda onda de filmes espíritas no país– a primeira durou de 2010 a 2014. O documentário “João de Deus” é o primeiro a chegar aos cinemas, já em cartaz em algumas cidades. 

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 Conhecer e personificar a história de um dos maiores médiuns do país, que, calculam, teria curado cerca de quatro milhões de pessoas, transformou a vida de Mello. “Mudei a minha percepção. Li muita coisa e conheci pessoas que ele operou e curou. Saí muito mexido das filmagens”, lembra. No último dia de gravação, após chorar muito, Mello ficou preocupado em como se desconectaria deste universo, após vivê-lo intensamente. “No mesmo dia recebi um convite da Rede Globo para fazer a novela (“Deus Salve o Rei”, em exibição). Foi um sinal. Tive que mudar a chave no susto”. Em cinco horas já estava de volta ao Rio de Janeiro, onde mora, após crises de choro e o uso de uma máquina de cabeleireiro para tirar o bigode característico de Zé Arigó. “Fazer o filme me trouxe algo de que estava afastado. Eu era ateu e percebi que existe uma coisa aí que a gente não sabe direito”, registra. Com Juliana Paes como sua parceira de cena, na pele de Arlete André, esposa de Arigó, Mello viveu o desafio de interpretar dois personagens: Arigó e Dr. Fritz, entidade espiritual que, em vida, teria nascido na Alemanha e servido como médico durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). “Arigó era uma pessoa iluminada, um cara que foi amado e odiado, idolatrado e perseguido. Quantas pessoas importantes foram lá (em Congonhas), como Juscelino Kubitschek e Dercy Gonçalves. É incrível poder contar esta história sobre uma pessoa de vida sofrida e que buscou ajudar o próximo”, afirma. Mello pondera como deve ter sido difícil para Arigó não poder curar um de seus filhos, que tinha um problema nos ossos. “Era o carma dele e teria que viver com isso. Foi muito emocionante fazer a cena com meu filho no filme, que dá bem a ideia do sofrimento do pai que cura milhares e não pode ajudar o filho”. Mello teve contato com a família de Arigó e, segundo ele, todos os filhos (o médium teve oito) ficaram muito emocionados com a realização do filme e o fato de a história do pai ser eternizada na tela grande. Em fase de montagem, o longa deve estrear no primeiro semestre de 2019, com distribuição da Imagem Filmes. O diretor Gustavo Fernández assina o primeiro longa da carreira e ganha elogios fartos de seu protagonista. “Ele trabalha na Rede Globo há muitos anos. Já fez minissérie, novelas das nove. É muito cinéfilo, estudou cinema e acabou caindo na TV. Para o filme, fez planos diferentes e muito bonitos”. PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO / N/A

Médium goiano João de Deus é tema de documentário de Candé Salles Diretor teve que fazer ‘limpeza’ antes de filmar João de Deus Fascinado pela história do goiano João de Deus, o diretor Candé Salles passou por dois estágios antes de ter a esperada autorização para filmar, por cinco anos, o dia a dia do goiano na Casa Dom Inácio, em Abadiânia, onde milhares de pessoas, de vários lugares do mundo, buscam a cura para enfermidades diversas. “Em 2011, João estava em São Paulo e fui falar com ele, que me olhou de cima para baixo, como se estivesse me escaneando. Falou que eu precisava passar na casa da entidade. Quando fui lá, ela se apresentou como doutor Augusto de Almeida e disse que eu estava sujo e que precisava me limpar antes”, lembra. A limpeza envolveu trabalho em cachoeira e meditação. “Revi minha vida, chorei muito e fiquei sensível a tudo”, conta.  O passo seguinte foi filmar as curas e a experiência não foi menos transformadora. “Vi muita gente sendo curada, voltando para os médicos e estes dizendo ‘continue o que está fazendo’ porque você está melhorando’”. Filme de amorA atriz Cissa Guimarães narra o documentário, que tem roteiro assinado pela assessora de imprensa de João de Deus, a jornalista Edna Gomes, em sua primeira experiência no cinema.  Para Salles, o importante dessa onda de filmes espíritas é “querer passar amor para as pessoas”, num momento caótico do país.  N/A / N/A

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