Classe média adere aos shows dedicados à música “cafona”

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
02/12/2012 às 10:19.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:59
 (Luisa Rabello/Divulgação)

(Luisa Rabello/Divulgação)

“Quando digo que deixei de te amar, é porque eu te amo”... Bastam as primeiras palavras de “Evidências”– música de Paulo Sérgio Valle e José Augusto eternizada por Chitãozinho & Xororó – para a plateia enlouquecer. Detalhe: estamos nos referindo a um público formado por comunicólogos, artistas, profissionais liberais... Em síntese, expoentes da chamada “classe média”.

Quem já foi a um show da Orquestra Mineira de Brega sabe bem o quanto os formadores de opinião andam ligados em músicas que outrora tocaram em rádios populares. Canções das Irmãs Galvão, de Rosana, Fábio Jr e Tracy Chapman são acompanhadas por gente que, em casa, está acostumada a ouvir Beatles, Chico Buarque e outros símbolos da dita “boa música”.


Mudanças

Formada por integrantes de diversas bandas roqueiras, a Orquestra faz cerca de quatro shows por mês, alguns fechados. O sucesso – assim como o da tradicional festa “Eu Não Presto Mas Eu Te Amo”, realizada n’A Obra – deve-se a certas mudanças de paradigmas, segundo o tecladista Artênius Daniel, um dos fundadores do grupo. Antes, o gosto musical estava diretamente relacionado à classe social, enquanto hoje os limites não estão mais tão claros.

“No Brasil, o conceito de brega é utilizado, de forma errada, em contraposição ao que seria ‘elegante’, ‘de bom gosto’. Fruto de uma visão completamente distorcida e preconceituosa dos setores com mais dinheiro ou poder, que historicamente tendem a negar a cultura das classes com menos renda”, explica Daniel.


Sem vergonha

Recentemente, as classes A e B encontraram conforto para “berrar” músicas de Roberto Carlos e Fagner. “O Brasil está se permitindo mais se pensar como uma coisa só”, prossegue Artênius.

E prossegue: “Não acho que seja só a ascensão das classes mais baixas ao consumo, mas a firmeza de um processo democrático inédito, que cria o clima para essa busca pela identidade nacional”, diz o tecladista. “Perder a vergonha de dizer que gosta de brega tem muito a ver com perder a vergonha de ser brasileiro”.

Ele cita o Pará, onde a música brega tem sido importante para a valorização da identidade local. “Mais um tesouro da cultura nacional como são o frevo e o maracatu pernambucanos, o afoxé baiano, a música caipira do interior do país”.

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