Colin Firth é um traumatizado veterano de guerra em “Uma Longa Viagem”

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
09/03/2015 às 09:29.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:16
 (CALIFÓRNIA/DIVULGAÇÃO)

(CALIFÓRNIA/DIVULGAÇÃO)

É na última meia hora de “Uma Longa Viagem” que a personagem de Nicole Kidman justifica a importância que tem na trama. No lugar de um adereço feminino, veículo de nosso gradual interesse pela história de Eric Lomax (Colin Firth), um traumatizado veterano de guerra, Patti se torna um signo de esperança.

Não propriamente pelas próprias ações, mas pela maneira como o roteiro lida com questões como tortura, inimigos de guerra e vingança, temas caros a vários filmes americanos passados durante um conflito armado. Nada sabemos sobre o seu passado, ajudando-nos a crer que o papel é uma “aparição”.

O cuidado quase materno no envolvimento com o marido recebe, no meio da narrativa, um contraponto fantasmagórico, por intermédio da mãe de Lomax, para quem enviava cartas sem saber que estava morta. Patti, de certa maneira, é o remetente certo, cuja chegada oferece uma saída à angústia dele.

Nas mãos de outro realizador, esses detalhes acabariam se perdendo um pouco. Baseando-se num caso real, Jonathan Teplitzki vai costurando essa história de acerto de contas com essas correspondências, concluindo “Uma Longa Viagem” com a aposta num mundo novo, guiado pela sensibilidade feminina.

Não por acaso, essa função se esclarece após o suicídio do antigo mentor de Lomax, numa linha de trem. O local onde o veterano encontra a futura mulher é justamente dentro de um trem, símbolo de uma viagem à moda antiga. E é justamente esse caminho em direção ao passado que Lomax toma.

Durante a longa travessia pelo horror dos campos de concentração japoneses, ele tem a oportunidade de reencontrar o próprio algoz. Um instante que poderia descambar para o melodrama, mas que ganha força na mensagem de que nunca damos esse tempo para nossas emoções amadurecerem.

Na maioria dos filmes de guerra, o nacionalismo fala mais alto, substituindo a família real pelos companheiros de armas. Teplitzki nos mostra o contrário: o confidente de Lomax se revela ainda mais perturbado, com um ajudando o outro a alimentar esse mal-estar, só quebrado com a chegada de Patti.

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