(RAQUEL ROCHA/DIVULGAÇÃO)
Ílvio Amaral já perdeu a conta de quantas sessões realizou de “Acredite, um Espírito Baixou em Mim”em 22 anos de apresentações ininterruptas. O que não o impede de “tremer nas bases”, como descreve a sensação que antecede a encenação de hoje, às 20h, no CineTheatro BrasilVallourec. A razão de tanto temor é o fato de o espetáculo ganhar, pela primeira vez, o formato on-line, com transmissão ao vivo em plataforma digital.
“Medo dessa coisa não dar certo, de pegar um sucesso de anos, fazer uma live dela e, de repente, não vingar. É um espetáculo que depende muito do público. Ele é muito interativo”, confessa Amaral. Ele sabe, porém, que o “palco digital” – única saída viável no auge da pandemia – veio para ficar e é preciso enfrentar o desafio de frente. “Vai chegando um momento em que a gente sabe que as coisas caminharão para este lado”, observa.
O ator detalha que a peça teve que passar por adaptações no texto para poder ser exibida por streaming, especialmente nas partes em que o fantasma homossexual interpretado por Amaral quebra a “quarta parede” e dialoga com o público. “Não tenho como conversar com uma pessoa que não esteja presente. Além disso, não vai ter cena de beijo, para haver o distanciamento entre os atores”, adianta.
A essência, no entanto, foi preservada, registrando em chave cômica a revolta de um homossexual assumido que foge do céu e incorpora num machista radical. Essa história ganhou o Brasil de norte a sul, arrebanhando mais de três milhões de espectadores. Em 2005, virou filme com direção de Jorge Moreno. “Não dá para comparar os dois veículos, porque no cinema você faz, repete e é tudo cortado depois. Agora é uma coisa direta”, salienta.
Improvisos
Ao longo de 22 anos, completados em 30 de julho, o texto original, assinado por Ronaldo Ciambroni, sofreu constantes transformações. “A peça estreou com 50 minutos. A gente foi enxertando tanta coisa que já deu uma hora e meia. São quase dois espetáculos”, diverte-se. Ele explica que os acréscimos são fruto de improvisos que acabam sendo incorporados devido à boa reação da plateia.
“Uma coisa que um grande amigo nosso, o Bemvindo Sequeira, disse e é verdade: o riso é a cocaína do comediante. Quando você está fazendo uma comédia, quanto mais o público ri, mais você quer usar daqueles artifícios para que ele ria mais. Toda vez que a diretora Sandra Pêra vê o espetáculo, ela pergunta: ‘Vamos cortar 20 minutos?’. Aí cortamos 20, 30 minutos. Depois começa tudo de novo. A gente tem mania de ficar ‘engordando’ quando está tanto tempo em cartaz”, registra.
Amaral não tem dúvida sobre o que o personagem de “Acredite” representou para a sua carreira. “Ele mudou literalmente a minha vida em todos os sentidos. Tanto de sucesso, como financeiro, além do reconhecimento fora de Belo Horizonte. Por causa dele fui para o programa ‘A Praça é Nossa’ e recebi convites para outros espetáculos. Por isso eu tenho um grande carinho por ele”