(Carlos Rhienck/Hoje em Dia)
A escola não tinha vidraça, não tinha janela, não tinha nada. O chão todo era feito de cimento bruto e era ali que ele dava aula. Era a Escolinha do Parque”, recorda, Yara Tupynambá, dos primeiros anos da Escola Guignard onde teve aula com o próprio artista. Esta e outras muitas histórias não fazem parte do imaginário da maior parte dos belo-horizontinos. “O que nos falta é um centro de memória. Você podia pegar todas as manifestações artísticas mineiras e fazer um centro irradiador de cultura: exposições, oficinas, palestras, cursos, porque se não houver a educação de público, não haverá artistas”, pontua Yara. Para tanto, ela ao lado dos artistas plásticos Eymard Brandão, Miguel Gontijo, Fernando Pacheco e Glauco Moraes criaram uma comissão que pede a criação de um Museu de Arte Mineira. “Um espaço para a arte produzida a partir de 1944. Sabemos, obviamente, da existência do Museu Mineiro, mas ele é muito específico: são duas pequenas salas. Não cabe nada ali”. A intenção do grupo é que esse espaço abrigue não apenas as artes plásticas, mas também a produção fotográfica, além de esculturas, gravuras, desenhos, pinturas, videoarte. Sem lugar Para citar um exemplo, Eymard Brandão conta que sempre recebeu amigos de outros estados e países. “Pessoas que gostariam de conhecer a arte mineira, mas aonde que a gente pode ver? Onde posso levá-las?”, questiona. “Acabo visitando alguns ateliês, porque não existe aqui um museu que o visitante consegue ter contato com a produção artística de Minas Gerais que é inegavelmente da maior qualidade. O que nos falta muitas vezes é a oportunidade de dar visibilidade a isso”. Cultura estagnada Glauco Moraes destaca que nos últimos anos, o público emergente cresceu profissionalmente e financeiramente, mas culturalmente não – “porque ele não tem acesso. Onde você encontra um Guignard pra ver? Em Minas é difícil. Não existe aqui uma memória da nossa história e da nossa identidade cultural que tem projeção nacional e internacional”. Casa nova Já em contato com a Secretaria de Estado de Cultura, a comissão diz que já sugeriu alguns espaços, como o Prédio Verde, na Praça da Liberdade, e o prédio do Detran, instalado na avenida João Pinheiro, no Centro de BH. “O publico quer ver, mas precisa de um espaço que conte a produção, a história da arte, do barroco mineiro e de exposições como a Semaninha. Quantos já ouviram falar desse evento que foi tão importante para a arte no Brasil? Apenas estudiosos, especialistas críticos. A arte precisa de espaço para não se perder”, reforça Yara para Eymard completar em seguida: “A arte é uma vocação com a qual a pessoa nasce. Ela pode assumir ou não. gente assumiu e vai em frente”.