Não se trata de um trabalho autobiográfico, apesar de conter algumas histórias reais. “Seria um disco enjoado demais se fosse sobre a minha vida”, brinca o compositor mineiro Eugênio Gomez, que acaba de lançar “Terceiro Amor”.
Com 14 faixas, compostas ao longo de 30 anos, o álbum passeia por diversos ritmos como choro, bolero, valsa, xote e bossa nova. O amor é tema recorrente das letras bem desenhadas e interpretadas pela cantora Elisa Paraíso. “Encontrei na Elisa um trabalho espetacular. Uma voz que remete aos anos 50, mas com a técnica de agora”, elogia o compositor.
Os arranjos e a produção artística ficaram a cargo de Thiago Nunnes. Nomes da nova cena musical de BH, como o baterista Felipe Continentino e o contrabaixista Frederico Heliodoro, também fizeram parte do trabalho. “Tenho 66 anos com cabeça de 14. Sempre me dei bem com gente jovem. E o resultado foi muito bom. Eles deram uma sonoridade interessante para o disco”, afiança Gomez.
Romântico confesso, o compositor prezou pela delicadeza durante o processo de feitura do disco. “Gosto de trabalhar na linha do romântico derramado, mas sem perder o bom gosto”, adverte.
Histórias
A faixa-título conta a história de um escritor e a paixão por uma colega de profissão. Cheia de elipses e harmonia rebuscada, a canção convida o ouvinte a criar sua história. “Há uma conversa entre os personagens. Perguntas são feitas, mas nem sempre respondidas. O ouvinte vai preencher a obra”, comenta.
“Terceiro Amor” é a última parte da história criada por Eugênio. “Fiz duas canções anteriormente contando outras fases desse escritor. A primeira foi chamada ‘Belo Horizonte’”.
Para ele, uma das funções de um artista é perturbar. “A arte que não perturba é chata”, defende. Por isso, deixa em aberto seu trabalho. “As letras sempre deixam algo no ar. Quem ouve faz sua interpretação. Então uma música são várias”.
A faixa “Azul e Zen” lhe traz uma boa recordação. A letra foi escrita para a filha do meio, a atriz Débora Gomes. “Fiz uma música para cada filha. Na época, Débora reclamou dizendo que a dela era a pior de todas”, rememora. Gomez então fez uma canção que fala da filha em várias fases da vida, com 16, 27 e aos 90 anos. “A primeira parte é real. As outras uma projeção de como ela seria”, frisa.
O compositor afirma que faz música pensando no futuro. “Minha música não é datada. Ela não envelhece. Sempre que escrevo algo penso nesses aspecto”, explica. Quanto ao próximo álbum, ele diz que é uma surpresa. “Em cada audição se descobre sutilezas literárias e melódicas”, garante.