(SITE BUFFALO DIGITAL)
A realização de editais mais plurais, nos últimos dez anos, abriu as portas para o chamado “cinema de periferia” em Minas Gerais, que viu vários realizadores ganharem destaque internacional, como André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurilio Martins, Afonso Uchoa, Juliana Antunes e Marco Antonio Pereira.
Uma nova porta se abre com o Concurso de Roteiros e Narrativas – Vozes da Periferia, projeto da ONG Contato contemplado pela Lei Aldir Blanco de Emergência Cultural, que oferecerá 20 prêmios no valor de R$ 2 mil para argumentos ou roteiros de curtas-metragens de ficção ou documentário, feito na periferia ou tratando deste tema.
“Nosso objetivo é não só premiar estas iniciativas como também constituir um banco de narrativas de periferia de Belo Horizonte e de Minas Gerais para, oportunamente, em alguma oficina de capacitação ou projeto de coprodução, trazer estas histórias à tona”, observa Helder Quiroga, coordenador da Contato.
Para Quiroga, é importante caracterizar o termo periferia. “Nas grandes cidades, é onde está presente as favelas, aglomerados e vilas. Mas também podemos entender como periferia aquelas pessoas que estão à margem, dentro da fronteira da desigualdade, em territórios cuja ausência de políticas afirmativas é grande”, assinala.
De acordo com o coordenador, o concurso é uma tentativa de levar para a superfície narrativas que hoje estão invisíveis no mercado cinematográfico. “Ter esse banco de narrativas é a garantia de um lugar para armazenar estas histórias e poder articular possibilidades para que elas possam filmadas”, afirma Quiroga.
Ele entende que o valor de R$ 2 mil, frente aos custos de uma produção audiovisual, pode ser considerado simbólico, mas neste momento de crise econômica e sanitária, “na mão de uma realizador de periferia, será possível ajudá-lo a colocar comida dentro de casa, pagar as contas atrasadas ou impulsionar algum projeto”.
Quiroga registra que, fora a Lei Aldir Blanc, não há qualquer outra política de edital aberta atualmente. “Pelo lado dos alicerces estruturais de mercado, o concurso, ao dar visibilidade para estas narrativas, permite que não fiquemos achando que a cinematografia brasileira está pautada pela visão de pessoas com recursos”.
Ele lembra que o bojo narrativo da cultura brasileira tem origem nas comunidades pobres, “onde estes movimentos estão pulsando e sendo inovadores”. E se contrapõe à chamada estética da miséria. “Embora seja fã de ‘Cidade de Deus’ e de filmes que retratam o cotidiano de pessoas de poder aquisitivo mais baixo, a periferia não é sinônimo de tráfico”, salienta.
Neste contexto, destaca, é possível construir narrativas de romance ou ficção-científica. Um exemplo local é Marcelo Lin, que dirigiu o curta “Abdução”. Realizado no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, acompanha um morador que começa a notar estranhas marcas no chão, possivelmente geradas por objetos extraterrestres.