(PAU BARRENA / AFP)
Uma garrafa de vinho deformada, um escorredor fazendo as vezes da cabeça de uma mulher ou a escama de um peixe incrustada em cerâmica: a íntima conexão da obra de Pablo Picasso com a gastronomia emerge em uma nova exposição em seu museu em Barcelona.
"É uma nova visão sobre Picasso", explicou o diretor do Museu Picasso de Barcelona, Emmanuel Guigon, na inauguração, nesta quarta-feira (23), da exposição "A cozinha de Picasso".
"Parece estranho, mas não é. A cozinha é um tema que atravessa todas as obras de Picasso e em todos os formatos: a pintura, a escultura, a cerâmica e até a poesia", acrescenta o diretor.
A exposição é apresentada como um menu de degustação: mais de 180 obras divididas em dez salas diferentes, todas centradas em uma temática, do cubismo à poesia, passado pela cerâmica ou pelas esculturas com utensílios de cozinha.
De sobremesa, uma aula criada pelo Picasso da culinária espanhola, o chef Ferran Adriá, que aproveitou a mostra para refletir sobre "o que é cozinhar?" e os elos entre criatividade artística e culinária.
Essa foi uma honra para o fundador do emblemático restaurante elBulli, fechado em 2011, que reconheceu que suas "duas referências criativas no mundo são Picasso e Johann Cruiff", ex-jogador e treinador holandês do Barcelona, morto em 2016.
"Poder estar aqui é um sonho, há 20 anos isso seria impossível", afirmou. "Mas hoje, na arte, há pessoas que se interessam pelo que faz toda uma geração de cozinheiros que apostamos em ser de vanguarda", acrescentou.
Embora sejam setores bem distintos - "em 100 anos meus pratos não poderão ser exibidos em nenhum museu", brincou -, "compreender seu sistema criativo e seu funcionamento serve para analisarmos e compararmos com o nosso".
Objetos cotidianos como uma garrafa de vinho, um frango assado ou peixes se tornaram protagonistas desfigurados de seus traços cubistas, bem como um escorredor que representa a cabeça de uma mulher em uma escultura.