(Paulo Lacerda/fcs/divulgação)
Vale como curiosidade: após um hiato de 25 anos, a Cia. de Dança Palácio das Artes volta a ser dirigida por um homem. O novo diretor do corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado é Cristiano Reis, que sucede três representantes do sexo “frágil” – antes delas, Tíndaro Silvano respondia pela função. Mas o que chama a atenção é a maneira como o mineiro de Uberlândia foi conduzido ao posto: aos 38 anos (“quase 39”) e contabilizando 15 de atuação na companhia, ele foi escolhido pelos próprios companheiros.
Os trabalhos de Cristiano à frente da CDPA começam por direcionar a criação da coreografia para um novo espetáculo. “Trata-se de uma companhia de bailarinos criadores, portanto, não trabalhamos no esquema do profissional que passa a coreografia já pronta. Funciona a partir de algum mote, tema de pesquisa, do que a companhia quer falar... Mas uma pesquisa prática, com (direito a) pessoas da arte em geral, palestras, conversas, mediação de filmes, convidados da área de cinema... A gente tenta explorar ao máximo o que quer falar, um tema geralmente ligado à atualidade, não desvinculado da realidade que nos cerca. E, claro, com a pretensão de tocar o público esteticamente”, diz ele, lembrando que, este mês, o grupo já contará com o auxílio luxuoso de dois convidados. “Ambos coreógrafos da dança, o Fernando Martins e o Tuca Pinheiro – que, aliás, já esteve na companhia”.
E sobre qual tema vai versar o espetáculo? “Bem, ainda não está fechado, mas um assunto que emerge é a força dos coletivos, a partir do qual várias perguntas surgem. São os coletivos da massa? O dos excluídos? Ou o da dança, ou o do teatro grego, que tem o coro? Como esse assunto veio forte, vamos elaborar, tomando o cuidado de não criar cada um no seu núcleo, mas sempre juntos”.
IDENTIFICAÇÃO COM BH
Cristiano lembra que há anos integra a comissão que atua junto à direção da FCS, “o que me dá um conforto maior, um entendimento de onde a companhia está situada, o que traz de informação o fato de ser estatal, os meios de fomento com os quais a casa trabalha, as relações com as propostas políticas vigentes em quatro anos de governo (estadual)... Ou seja, não caí de paraquedas. É um ponto interessante que, acredito, soma positivamente, que é dialogar com a casa”.
Na verdade, cumpre dizer que foi justamente o sonho de integrar a CDPA que fez Reis sair de Uberlândia. “De cara gostei daqui. Acho que BH, por estar bem próxima às cidades históricas, é muito atravessada pela mineiridade, que já não transparece tanto em Uberlândia – embora goste da minha terra natal”, conclui.