(Divulgação / Netflix)
As produções espanholas caíram mesmo no gosto do público da Netflix e mostram que o investimento pesado do serviço de streaming tem dado resultado. Vale destacar que fica na Espanha o centro de produções da empresa na Europa. Depois dos sucessos recentes - também de crítica - de séries como Elite, La Casa de Papel e Vis a Vis, somente para citar alguns, a aposta gora é o recém-lançado filme “O Poço”.
O trabalho comandado pelo diretor Galder Gaztelu-Urrutia traz importantes reflexões sobre a sociedade, com cenas carregadas de críticas sociais e referências religiosas como forma de, digamos, cutucar o telespectador, levá-lo a refletir. Aviso: há mais perguntas do que respostas.
O longa acompanha Goreng (Ivan Massagué), homem que acorda em uma espécie de prisão vertical. A hora da refeição estabelece espécie de hierarquia. Explica-se. Em cada andar da prisão há dois ocupantes e há um vão no centro, por onde diariamente desce uma plataforma cheia de comida. Em cada parada, apenas dois minutos antes que o banquete passe para outro dar. Quanto mais baixo o prisioneiro está, menos come. O agito fica por conta do fato de os presos trocarem de andar aleatoriamente, a cada mês. Um dia você é “classe A” e, no outro, tudo muda, o que desperta os sentidos mais primitivos dos envolvidos.Divulgação / Netflix
Filme do diretor Galder Gaztelu-Urrutia é mais uma produção espanhola de sucesso no Netflix
Quem tenta trapacear, guardando comida, se ferra. A tentativa do protagonista Goreng frustra esses planos já no primeiro gesto de guardar uma maçã, quando é penalizado com aumento da temperatura da cela.
Tudo é narrado pelo já experiente companheiro de nível 48 Trimagasi, espécie de oráculo que nos introduz ao universo distópico de níveis intransponíveis. Mas um oráculo que se revela confortável em reproduzir a crueldade das “classes superiores”, um egoísmo explicado por uma lei dada como natural do comportamento humano.
Atualmente ocupando o posto de filme mais popular do site IMDb, o filme de Gaztelu-Urrutia recorre ao aprisionamento inexplicável que gera uma angústia inicial, como no filme “Jogos Mortais” e mais fortemente no holandês “Cubo”, sucesso de 1997.
A maior liberdade permitida em “O Poço” gera mais aflição, por só permitir maior sofrimento. Seja pela possibilidade de ir para níveis inferiores, onde comer as sobras dos outros ganha níveis cada vez mais críticos, de sobrevivência, ou atingir os níveis mais altos, onde já não há o que se ambicionar. “Há três tipos de pessoas: os de cima, os de baixo e o os que caem”, profetiza logo de cara o ancião que nos contextualiza a prisão, que descreve como a mudança de níveis se dá a cada mês, após seu décimo mês, alternando aleatoriamente desde o 8º ao 132º. “Nos níveis superiores não há muito o que esperar, e sim muito em que pensar”, salienta Trimagasi diante de um corpo.Divulgação / Netflix
Em uma prisão vertical, plataforma transporta para baixo as sobras da comida das celas de cima
O enredo parte da saga do protagonista, um idealista que voluntariamente entrou para a prisão em busca de um certificado e “armado” de um exemplar do clássico Dom Quixote.
Entre as críticas compartilhadas pela produtora de “O Poço” na web destaca-se a análise do filósofo brasileiro Leandro Karnal. “Há alimento para todos, porém o egoísmo produz fome”.