(POLLIANE ELIZIÁRIO)
O professor e pesquisador Maurício Guilherme Silva Jr sempre se interessou pelas relações entre arte e política à época do regime militar. “Um período bastante rico, no que diz respeito, principalmente, ao modo como os artistas brasileiros – por meio de suas elaborações estéticas – buscavam ‘dar conta’ do espectro ético”. Maurício lembra que, ante o esfacelamento dos princípios da cidadania – aqui expressos numa tríade direitos (civis, políticos e sociais) –, músicos, escritores, cineastas e artistas plásticos engendraram formas, “por vezes inusitadas”, de lidar com os desafios de seu tempo. Ciente da existência do livro “O Ato e o Fato”, de Carlos Heitor Cony, ele – jornalista e professor de Jornalismo, formado pela UFMG, que, no mestrado, havia migrado para Letras (também na UFMG), com o intuito de estudar Literatura Brasileira – achou que o cenário sociopolítico retratado pela obra poderia estimular hipóteses e questionamentos relevantes. “Tratava-se, pois, de 37 crônicas publicadas por Cony, de 2 de abril a 9 de junho de 1964, no ‘Correio da Manhã’. O próprio fato de o autor ter escrito tais narrativas no ‘calor dos acontecimentos’ significava, para mim, a possibilidade de incríveis condições de investigação”. Investigação essa que deságua no livro “Cronismo de Resistência – Tensões Narrativas Entre Jornalismo, História e Literatura em Crônicas de Carlos Heitor Cony Contra o Golpe Militar de 1964” (Prismas), que será lançado neste sábado, às 11h30, na Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi). Nele, Maurício interpreta as estratégias narrativas do cronista. “Nas crônicas, Cony não apenas problematiza as iniciativas dos militares no poder, mas também, ou ‘principalmente’, realiza seu ‘testemunho’ acerca dos muitos movimentos – políticos, econômicos, culturais, sociais etc – da nação sitiada”. Na pesquisa, ele também analisou 450 outras crônicas do carioca, muitas das quais reunidas nas coletâneas “Da Arte de Falar Mal” (1963), “Posto Seis” (1965), “Os Anos Mais Antigos do Passado” (1998), “O Harém das Bananeiras” (1999), “O Suor e a Lágrima” (2002), “O Tudo e o Nada” (2004) e “Eu aos Pedaços: Memórias” (2010). Com o mesmo propósito, recorreu à investigação do ensaio memorialístico “A Revolução dos Caranguejos” (2004). “Por fim, ao longo, realizei levantamento da fortuna crítica do autor. Desse modo, foi possível ter acesso não só a trabalhos de análise das crônicas de ‘O Ato e o Fato’, mas – de modo abrangente – a discussões acerca das principais características da obra de Cony.