(Eugênio Sávio)
Tudo aconteceu numa sexta-feira, mais precisamente, no 1º de agosto de 2008. No dia seguinte, o noticiário tratava de informar mais um episódio de violência que, infelizmente, já se tornou frequente nas grandes cidades do país: um executivo havia sido baleado na cabeça, após um assalto. Luiz Gustavo Lamac Assunção, 29 anos, foi abordado por um homem armado, aparentando ter cerca de 20 anos, que levou seu carro. Por sorte, Assunção não perdeu a vida, mas, infelizmente, ficou sem a visão. “O suspeito do crime não foi identificado”, seguia a notícia.
Um pulo no tempo rumo a 2015 e temos o nome de Luiz Gustavo mais uma vez na mídia – desta vez, com outro enfoque: “Administrador que perdeu a visão após ser baleado percorre o Brasil para contar sua história de superação”.
É o antes e depois de um homem que se viu ante um desafio em plena juventude. Seis anos após o traumático episódio, ele ainda reinventa seu jeito de viver. Dos primeiros processos para compreender o mundo à adaptação nas questões profissionais, tudo precisou ser revisto. E a intensidade do processo inspirou Luiz a escrever o livro “”Um Outro Olhar: Uma História Real de Superação no Trabalho e na Vida” (Editora Gente), lançado em parceria com a psicóloga Terezinha Sette, seu “braço direito” no processo de adaptação à nova realidade.
O processo de escrita foi um estímulo para que o tímido administrador aprendesse a espraiar seus sentimentos. E haja emoção nas 120 páginas da obra. São textos que listam as vitórias e angústias, narradas de forma objetiva e quase didática, o que fez com que alguns líderes de empresas vissem, ali, o potencial de Lamac Assunção para o nicho da motivação de equipes. E convites para palestras começaram a pipocar. Mas, claro, os encontros com o público também precisaram ser estudados – e foi aí que o até então neófito palestrante vislumbrou um caminho para a aplicabilidade do que sabia por meio de sua profissão original.
O fato é que o episódio – indiscutivelmente traumático, e que poderia abater muitos – foi transmutado por uma “ferramenta” simples: o querer.
“Às vezes, as pessoas têm resistência para se capacitarem e evoluir em uma empresa. Mas, veja o meu caso, tive que reaprender muita coisa, até informática, com programas de áudio”, confidencia ele, sem no entanto querer edulcorar a realidade. “É um processo chato, mas acabou sendo ótimo. Hoje minha autonomia na informática é plena”, compara.
Palestras são devidamente registradas e disponibilizadas Nos últimos meses, quando intensificou a participação nestes eventos, Luiz Gustavo percorreu várias cidades dentro e fora de Minas Gerais, fazendo palestras para centenas de gestores e também estudantes. Os registros destes intercâmbios estão no blog-site: palestrarompendobarreiras.com.br. A agenda das palestras, ele divide com o trabalho em consultoria financeira e imobiliária. Estas viagens pelo Brasil, ao lado da mulher, com quem tem um filho de seis meses, é pontuada por emoções. “As pessoas choram, mas também, se alegram ao ouvir a minha história. A gente tem que continuar vivendo”.
Trechos do livro
Em meio às páginas do livro pipocam trechos que suscitam emoção– ou por uma pitada de bom humor. Caso da volta ao escritório. “Cumprimentei e recebi as boas-vindas de quem estava na recepção e fui para minha sala. Aos poucos, todos começaram a dirigir-se até lá, felicitando-me. Identificava a grande maioria pela voz; outros, pela altura ou protuberância da barriga”.
Luiz também narra sua rejeição à bengala, comparada por ele ao “fim do mundo”. “Diante dessa minha reação de imediata rejeição à sua proposta, Terezinha Sette permaneceu calada, como se esperasse o próximo lance de meu destempero...”, narra, acrescentando que foi peremptório. “Definitivamente, não aceito! Toparia um taco de beisebol”. Ouvindo isso, a psicóloga começou a rir. “E eu ri junto”, recorda ele, dando provas inequívocas de que sim, está de bem com a vida.