(Ninja Franz/Divulgação)
Na última semana, os fãs do Boogarins foram pegos de surpresa quando pintou na timeline, sem aviso prévio, o álbum “Lá Vem a Morte”, quarto trabalho do quarteto goiano. Gravado no estúdio Manchaca Roadhouse, no Texas (EUA), o disco tem produção do guitarrista Benke Ferraz e traz oito faixas novas, sendo três vinhetas homônimas e duas canções já conhecidas do público, “Foi Mal” e “Elogio à Instituição do Cinismo”.
Apesar de se debruçar sobre temas mais sombrios, como morte, cinismo e hipocrisia, o disco não passa nem perto de causar uma bad trip ao ouvinte. A audição começa com os ruídos e falas sobrepostas do tema-vinheta homônimo. Dividido em três partes, ele amarra início, meio e fim do álbum com experimentalismo e confusão sonora.
Mas antes de qualquer baixo astral chega “Foi Mal”, dessas músicas que já nascem hits. Mistura de Pond, Milton Nascimento e Flying Lotus, com um synth bass inquieto conduzido pelo baixista Raphael Vaz, a canção - uma das melhores do novo repertório - é a versão em português de “A Pattern Repeated On”, parceria acertada do Boogarins com o músico e produtor norte-americano John Schmersal.
O álbum traz ainda o pop noise de “Onda Negra”, o folk eletrônico e cheio de ecos de “Poluição Sonora” e a estranha “Corredor Polonês”, que choca pelo contraste entre o título pesado e a harmonia leve, quase solar, com criativas guitarras e synths.
Antes de fechar com a terceira parte do tema-vinheta, gravada junto ao cantor carioca Bonifrate, do extinto grupo paulistano Supercordas, vem “Elogio à Instituição do Cinismo”. Com uma bateria eletrônica acelerada, a música, outra pérola do disco, questiona a falsidade das relações humanas na contemporaneidade. “Você já não vê cor / Você não olha nos olhos / E quando olha é só pra mentir”, diz a letra, sem massagem, logo no início.
Claro que é difícil superar o irretocável “Manual” (2015), último disco de estúdio antes de “Lá Vem a Morte”. Mas essa não parece ser a intenção dos goianos. O novo álbum soa mais como uma jornada despretensiosa e inesperada por outras terras, mais soturnas, conceituais e experimentais – uma viagem forte e pra lá de proveitosa.