(DALTON VALÉRIO/DIVULGAÇÃO)
Diogo Vilela indaga sobre a existência do “convento” em que ficou hospedado durante as filmagens de “O Grande Mentecapto”, em Mariana, em 1987, do qual guarda excelentes recordações. “Hoje derrubam tudo, acabam com tudo, queimam tudo”, completa o ator, antes de ouvir a resposta.
Provavelmente ele está falando do Colégio Providência, que virou hotel em 1972. A centelha para ativar esta memória é a peça “Cauby, uma Paixão”, que será transmitida hoje, às 20h30, ao vivo e de forma gratuita, pelos canais YouTube do Sesc em Minas e do Teatro Claro Rio e pelo Canal 500 da Claro TV.
“É um espetáculo que fala da paixão, que é o que a gente menos está tendo hoje em dia. Estamos passando por momentos muito violentos, em todos os sentidos”, registra Vilela. Para ele, Cauby Peixoto – falecido em 2016 – é o contrário de tudo o que está se passando hoje, sinônimo de energia de amor e paixão.
A peça, que estreou há dois anos, passou por uma grande transformação para ganhar a forma de monólogo e seguir as regras de distanciamento social, devido à pandemia. No lugar de uma biografia do cantor, contada em forma de homenagem pela secretária, é o próprio personagem de Cauby que relata as passagens de sua vida.
“A premissa é sempre homenagear Cauby, mas desta vez eu e o autor Flávio Marinho tivemos a ideia de pôr o Cauby falando, usando algumas declarações dele no texto”, destaca Vilela. Apenas uma fala não é verdadeira, quando, no início da peça, fala sobre a pandemia. “É uma brincadeira”, explica.
Outro adendo é no repertório musical – além dos clássicos “Conceição” e “A Pérola e o Rubi”, junta-se à seleção de 15 títulos a canção “Dindi”, de Tom Jobim. “É para falar do momento em que está no ostracismo, criticado por ter uma voz superlativa, diferentemente do que fazia a Bossa Nova, em que a voz era menos projetada”, sublinha.
Sem plateia
Diferente também será o fato de se apresentar para uma plateia vazia, no Teatro Claro Rio, na capital fluminense. “Acho que vou me valer da emoção da ausência”, assinala, também apontando para o cenário macro do país. “Estamos vivendo momentos obscuros, em que não há arte ou humor. Somente acusações e provocações”.
Cantar não é novidade para Vilela. Há mais de duas décadas, ele faz aulas de canto, emprestando a sua voz a espetáculos sobre Nelson Gonçalves e o mineiro Ary Barroso. “Desde a década de 90 sempre cantei. O problema é que, no Brasil, você só podia ser uma coisa só. E eu era comediante”.
Apesar da voz potente, ele afirma ser apenas um ator que canta, sem intenção de se promover como cantor. Entre os projetos que ele vem preparando para o pós-pandemia, está um musical. “A realidade é que faz a gente parar e ficar deprimido. Eu estou tentando tocar a vida para frente, aproveitando que estou com saúde, graças a Deus”, avisa.