Documentário “Bagre Africano da Ataleia” revela que Minas tem sua versão do monstro do lago Ness

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
02/01/2014 às 07:22.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:06
 (Gustavo Jardim/Divulgação)

(Gustavo Jardim/Divulgação)

Minas Gerais tem a sua própria versão do monstro do lago Ness. É um bagre africano que, segundo relatos de populares, saiu do Espírito Santo para habitar os rios Norte e Pratinha, no Vale do Mucuri, assustando pescadores e moradores da cidade de Ataleia ao ser visto rastejando fora d’água e devorando pássaros e mamíferos.
“O peixe foi avistado andando a cavalo, mamando nas tetas de uma vaca e comendo tudo que achava pela frente. Alguns garantem que já comeu até gente”, observa o diretor Gustavo Jardim, que foi à caça do monstro aquático munido de uma câmera e uma equipe de dez pessoas.
O resultado dessa busca é uma das atrações da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, com início no dia 24, na cidade histórica mineira. Codirigido por Aline X, o documentário “Bagre Africano da Ataleia” participa do festival como um dos sete concorrentes da seção Aurora, voltada a cineastas iniciantes.
O quanto de verdade ou exagero há nessa mitologia popular é o que menos interessa à dupla de diretores. Jardim explica que o trabalho não é um documentário tradicional, pautado pela investigação jornalística. “Empreendemos a nossa caça a partir da força do imaginário, muito fértil em cidades do interior”.
O mais importante, segundo o cineasta, foi acreditar não só na existência desse aterrorizante parente escocês do monstro do lago Ness como também embarcar na narrativa dos moradores. “Não sabíamos qual era a nossa presa e nos deixamos levar por essas figuras extraordinárias que nos apresentaram a sua caça particular”, registra.
Ele diz que a beleza do filme está na própria caça, oferecendo rico material no campo imaginário. “Nos tornamos parceiros dessa criação, contribuindo para uma imersão através do olhar. Somos provocados a partir da reação desses caçadores”, assinala.

A intenção de “O Bagre Africano de Ataleia” é mais levantar perguntas do que oferecer respostas. “O filme vai em direção à memória inventada e à memória real, que se misturam à mitologia popular”, ressalta Gustavo Jardim, formado em cinema etnográfico na Universidade de Toronto, no Canadá.
A aproximação desse universo imaginário já se manifestara em seu curta “A Hora do Primeiro Tiro”, que relata caso verídico ocorrido em 1967, quando a cidade mineira de Jordânia se preparou para uma invasão militar supostamente comandada pelo então governador Israel Pinheiro.
Um morador de Jordânia veio a Belo Horizonte e ficou sabendo da invasão, mas na verdade se tratava da Guerra dos Seis Dias, no Oriente Médio, quando Israel entrou em conflito com os países árabes, entre eles a Jordânia. “Ele voltou baratinado para a cidade, que se preparou para a guerra com barricadas”.
Para Jardim, a história do bagre africano tem um estreito vínculo com a relação dos povos indígenas com a Natureza. “Eles fabricavam seus mitos a partir dos elementos naturais”, sublinha o realizador, citando a presença do grupo dos Botocudos (também chamados de aimorés) na região.
  A história do monstro de Ataleia está relacionada a inserção de peixes predadores como a perca-do-Nilo, que, durante a década de 50, arrasou com o ecossistema do lago Vitória, uma das nascentes do rio Nilo. Introduzido no local na expectativa de melhorar os rendimentos da pesca e sem inimigos naturais, o peixe se proliferou, chegando a atingir mais de 250 quilos e alimentando relatos fantásticos. Em menos de 40 anos, cerca de 400 espécies foram extintas.

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