(Virna Smith)
O documentário “Operários da Bola”, uma das 12 estreias de hoje nos cinemas de Belo Horizonte, não menciona em nenhum momento a construção de Brasília, mas é impossível não criar uma relação entre os nove mil trabalhadores que participaram das obras do estádio Mané Garrincha com a fundação da capital federal.
Como na década de 50, muitos dos operários que colocaram o estádio de Brasília de pé a tempo da realização da Copa do Mundo são nordestinos, pobres e que mantêm um sonho de pertencer àquele lugar de alguma forma, mais do que simplesmente se reunirem no gramado em reforma para participar de um torneio.
O filme da diretora Virna Smith foi realizado durante a competição, ocorrida em 2012, mas o que se sobressai não é o estilo ‘peladeiro’ nem o bom humor em lances pitorescos que anteciparam a presença de estrelas da bola. A grande atração são as histórias de vida, baseadas em entrevistados que já tiveram uma relação mais direta com o futebol.
É o caso do ex-zagueiro Bala, que chegou a ficar muito perto de jogar num grande clube antes de voltar à terra natal e, pouco depois, sem conseguir repetir o êxito de tantos jogadores, passou a viver do trabalho nos canteiros de obras. Há também o “árbitro” que faz questão de repassar as regras diante das câmeras e o motorista de grua e “olheiro” que aguarda o momento de descobrir um craque.
Emoção
Se um senão pode ser feito ao documentário é não compreender a potencialidade desses personagens como fios-condutores da história, desperdiçando tanto tempo com imagens do campeonato interno que apenas reforçam o que já foi percebido desde o primeiro momento: o contraste entre o glamour do esporte e os que entram nesse campo como anônimos. Ao dar voz a eles, “Operários da Bola” poderia ir um pouco mais a fundo, encontrando o mesmo ponto de emoção que um gol provoca nos torcedores.