(Elo Company / Divulgação)
Ao registrar uma fazenda no interior de São Paulo que se transformou numa espécie de campo de concentração, onde crianças foram torturadas e submetidas a trabalho escravo, nas décadas de 1930 e 40, o diretor Belisário Franca está apontando para o futuro no documentário “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”.
Em cartaz nos cinemas, o filme mostra que “havia um contexto histórico que permitiu com que meninos órfãos e negros fossem deslocados do Rio de Janeiro, com autorização de um juiz federal, para a fazenda de uma família de membros integralistas e simpatizantes do nazismo. Isso foi encarado com naturalidade”, segundo o cineasta.
A relação com o hoje está numa população jovem desassistida, em que a palavra de ordem é afastar o que gera incômodo. “Além da violência que esse setor da sociedade sofre, há a questão do preconceito, hoje fomentada pelo momento político, principalmente nas redes sociais, com manifestações claras de racismo”, compara.
Suásticas em tijolos
Nas primeiras décadas do século 20, lembra Belisário, a defesa da eugenia era feita a céu aberto, com uma elite carioca aderida às ideias totalitaristas, estampadas na Constituinte de 1934, quando deputados e o presidente Getúlio Vargas faziam discursos sobre a importância para o desenvolvimento da nação.
“O que me assusta é estar discutindo temas que são do início do século passado, podem chegar ao século 22 ainda falando disso”, destaca o diretor, que realizou o filme a partir de uma tese do historiador Sidney Aguilar Filho, que descobriu o caso quando uma aluna lhe falou sobre tijolos com suásticas desenhadas, numa fazenda. Foi o ponto de partida para encontrar o menino 23 do título, na verdade Aloísio da Silva, um dos meninos escravizados.
“A tese opera dentro de um nicho acadêmico e o cinema tem essa possibilidade de dar maior potência, fazendo com que atinja outras pessoas”, salienta Belisário, ao falar das razões dessa história não ter recebido a atenção que merecia antes de ir para a telona. “Além disso, o brasileiro é dissimulado, não gosta de ver seus defeitos, como ser parte de uma sociedade preconceituosa, violenta e corrupta”, registra.