Documentário que estreia nesta quinta reforça caráter trágico e inesperado da pandemia

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
16/11/2021 às 16:34.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:15
 (CNEFILMES/DIVULGAÇÃO)

(CNEFILMES/DIVULGAÇÃO)

Durante a gripe espanhola, que matou 350 mil pessoas no Brasil entre 1918 e 1921, o cineasta Eduardo Escorel perdeu a avó paterna. “Virou uma marca na família. Meu pai só tinha dois anos e, durante muito tempo, foi questão presente na família”, registra.

Para Escorel, que assina o documentário “SARS-CoV-2 – O Tempo da Pandemia”, em cartaz a partir de quinta (18), “quando a pandemia veio e começou a mortandade, com a perda de vários amigos, essa coisa da minha avó acendeu em mim o alerta do que a Covid poderia representar”.

O filme entrevista médicos e especialistas em saúde pública que, sob a liderança de Paulo Chapchap, do hospital Sírio-Libanês (SP), aceitam a missão de colaborar no combate ao coronavírus e integrar a iniciativa Todos pela Saúde. Entre eles Drauzio Varella e o mineiro Eugênio Vilaça.

“Ter um documento como esse não deixa de ser um alerta, um sinal de advertência. Espero que, quem for assistir ao documentário, se tiver consciência do que está acontecendo, terá a confirmação de como a coisa foi mal gerida e o que poderia ser evitado”, comenta o cineasta.

Escorel carrega a ilusão de que, “mesmo entre os que negam a doença, possa existir, no futuro, uma visão clara desse período e da tragédia que representou”. Para tanto, conta com relatos emocionantes de profissionais da saúde que estavam na linha de frente.

As gravações aconteceram entre abril e maio deste ano, num momento em que o país convivia com índices elevados de casos e mortes por Covid. Não foram poucas as vezes em que a equipe precisou remarcar entrevistas, devido aos protocolos sanitários.

Eduardo Escorel lembra que o projeto não se originou num impulso da dupla de diretores. “Nós recebemos o convite com a orientação de dar conta da iniciativa Todos pela Saúde, que teve um comitê gestor formado por Paulo Chapchap”.

Ele destaca que o mais importante a ser mostrado no filme não era a pandemia em si, mas a experiência imprevista e inédita do grupo de sete especialistas responsáveis pelo planejamento da ação de enfrentamento e tentativa de salvar vidas.

“Às vezes fazemos filmes que planejamos, mas com maior frequência, surgem coisas imprevistas, em serem, necessariamente, tão trágicas como essa. A importância de um registro documental é o valor que terá daqui a 10, 30 ou 50 anos. Isso se o filme sobreviver até lá”.

“Sete samurais” da saúde são os protagonistas

Foram muitas as dificuldades durante a gravação do documentário, a começar pelo registro das reuniões do Todos pela Saúde, que passaram meses se encontrando diariamente, às 7h, de forma virtual. “Foi aí que começaram a planejar ações e iniciativas em escala nacional”, diz Escorel.

“Quando nos chamaram, nossa impressão era de que boa parte das ações já tinham ocorrido, evidenciando um sentido de urgência. Para eles, era preciso investir os recursos (na casa dos bilhões) de forma eficaz e urgente, já que as pessoas estavam morrendo”, pondera.

O documentário seguiu essa proposta, como revela seu título ambíguo. “Não se podia tardar, era preciso agir rapidamente. Nós propusemos então a ideia de centrar o filme na experiência dessas pessoas, somada aos profissionais que estavam lidando de frente com a Covid”, diz o cineasta.

A ideia de inserir esse segundo grupo de especialistas partiu da consultora mineira Carla Jacomin, que é oncologista, quando citou um poema do dramaturgo alemão Bertold Brecht sobre a construção das Pirâmides do Egito. “Para ele, se falava muito dos faraós, mas não dos escravos que carregaram as pedras”, diz o Eduardo Escorel.

Os sete especialistas do grupo Todos pela Saúde são Paulo Chapchap, Maurício Ceschin, Gonzalo Vecina, Drauzio Varella, Sidney Klajner, Eugênio Vilaça e Pedro Barbosa. A partir deles que entendemos que “o vírus veio nos mostrar como somos uma sociedade desigual e o que mata não é ele, mas a desigualdade”

Por conta das restrições de viagens na pandemia, o cronograma inicial só previa gravações em São Paulo. “Uma equipe foi formada na capital paulista pelo meu irmão, Lauro. E como a situação de Manaus tinha se agravado, com a segunda onda, foi criada uma pequena equipe lá”.

As entrevistas se estenderam a Belo Horizonte, onde foram colhidos depoimentos de Eugênio Vilaça, especialista em saúde pública. Helvécio Ratton, diretor de “Batismo de Sangue”, foi o entrevistador. “Graças a isso pudemos ouvir os sete samurais, como chamamos os especialistas do Todos pela Saúde”, completa Escorel.

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