Documentário revela carinho do renomado fotógrafo Sebastião Salgado com seus personagens

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
05/08/2013 às 08:10.
Atualizado em 20/11/2021 às 20:40

Não faltam superlativos à trajetória do fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, que já percorreu o planeta de ponta a ponta com sua câmera, sempre retornando dessas aventuras com imagens impressionantes que estampam diversos livros.

Mas o que chama a atenção no documentário "Revelando Sebastião Salgado" é a simplicidade desse ex-economista esquerdista nascido em Aimorés há 69 anos. Desafetação que é a chave para compreender o êxito do trabalho de Salgado.

"A gente imagina um Sebastião Salgado que chega num helicóptero, tira suas fotos e depois vai embora. A verdade é que ele se interage com o mundo que fotografa, fazendo amigos e sendo chamado de Tião por eles", observa a diretora Betse de Paula.

Tião

Filha do cineasta cearense Zelito Viana ("Bela Noite para Voar") e sobrinha do humorista falecido Chico Anysio, Betse ressalta que bastam poucos dias num lugar qualquer, por mais estranho que seja ao fotógrafo, para ele logo ser chamado de Tião.

Por conta desse jeito afetuoso, Salgado se tornou celebridade ao ser um dos poucos fotógrafos que clicaram o atentado sofrido pelo presidente americano Ronald Reagan em 1981, dois meses após a sua posse, na entrada do Hotel Hilton, em Washington.

"Ele fez amizade com os seguranças e foi assim que conseguiu estar no cenário onde aconteceria o atentado. Quando houve o disparo, ele passou pelo círculo de segurança porque já era conhecido deles. A venda das fotos resolveu a vida financeira de Sebastião", destaca.

O fotógrafo foi um dos três profissionais que registraram o episódio, ganhando mais de US$ 250 mil pela reprodução das imagens. Com o dinheiro, comprou um carro e um apartamento em Paris, onde fixou residência.

Salgado não gosta de abordar esse capítulo de sua vida, para não ficar marcado como o "fotógrafo do atentado de Reagan", mas acaba cedendo ao apelo de Betse, que ganhou a valiosa colaboração do filho do artista, Juliano, na direção.

Foi Juliano quem conseguiu abrir espaço na agenda de Salgado para as entrevistas na capital francesa. "Não foi fácil. Ele delimitou que só poderíamos gravar três vezes por dia, por uma hora cada. E o que iríamos fazer em Paris nas outras sete horas do dia senão passear pela cidade?", diverte-se.

Apesar de ser amiga do biografado e trabalhar ao lado do filho deste no filme, a cineasta avisa que "Revelando Sebastião Salgado" não é chapa-branca. "Ele não aparece dizendo ser o máximo, exibindo seus muitos prêmios. É muito mineiro nesse sentido. Se fosse baiano, ficaria se vangloriando, não é?", brinca Betse.

Documentário entra na disputa do Kikito no Festival de Gramado

Betse de Paula não esconde a surpresa pela seleção de "Revelando Sebastião Salgado" no Festival de Gramado, com início nesta sexta-feira na Serra Gaúcha. "É incrível a reação (ao filme). Está muito acima de nossas expectativas", confessa a irmã do ator Marcos Palmeira.

O documentário, primeira produção brasileira sobre o artista mineiro, também abrirá, fora de competição, o Festival de Brasília, no próximo mês. "Tinha feito pensando num programa de TV, mas depois de um teste de audiência em Curitiba, que costuma não gostar de filme nacional, percebi que tinha muito mais".

A cineasta está com a adrenalina em alta, porque, além da exibição do doc em Gramado, ela lança a comédia "Vendo ou Alugo" em circuito comercial no dia nove. "São filmes bem diferentes. O Vendo é uma espécie de ópera. O outro é um banquinho e violão".

Nada se perde

Formato que Betse atribui ao estilo de Salgado. "A qualidade do filme está na simplicidade dele. É um bom mineiro, genial como (o antropólogo) Darcy Ribeiro (nascido em Montes Claros), falando de forma devagar, com tudo explicado. Nada se perde, gerando histórias sensacionais", compara.

Ela se diz impressionada com a trajetória de um garoto que sai de Conceição do Capim, distrito de Aimorés ("Todo mineiro mora perto de um lugar", brinca a diretora), para ganhar o mundo. "Não há lugar que não conheça, vasculhando cada um deles com suas lentes".

Sorte

Salgado chegou a ficar oito meses sem ver a mulher Lélia, com quem está casado desde 1967. "Ela é o braço direito dele, que ressalta a sua sorte em contar com a sabedoria de Lélia. Esse carinho é evidenciado em Paris. As filmagens coincidiram com a proximidade do aniversário do Sebastião", sublinha.

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