Edson Xavier já contabiliza 40 prêmios e está entre os 100 mais influentes do mundo

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
23/12/2013 às 08:37.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:58
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Edson Xavier localiza sua conexão com o traço no período em que contabilizava apenas quatro anos de vida. "Lembro de ter visto um caderno na casa de um amigo da família, no qual havia vários desenhos feitos com carvão. Em casa, tentei fazer o mesmo usando carvão de churrasqueira. Mas não deu muito certo", ri. Desde então, o mineiro fez dos lápis de cor e de massinha de modelar os seus brinquedos favoritos. "Em casa, havia aquelas coleções sobre grandes pintores, dessas que se compra em bancas. Eram as minhas favoritas", rememora.   Um pulo no tempo flagra o nome de Edson Xavier, hoje, inserido entre os 100 designers mais influentes do mundo. Em seu currículo, agora, figura, entre outros trunfos, o prêmio IDEA Brasil – considerado uma espécie de "Oscar do design brasileiro". E não só. O rapaz também produziu 48 peças para o catálogo 2013 da Swaroviski.   Na verdade, aos 27 anos, Edson já coleciona aproximadamente 40 prêmios. "Sim. Isso até já foi tema de pesquisas por parte de incrédulos", brinca ele. "A questão é que não ganhei só prêmios com joias. E não costumo participar de prêmios só de joalheria. Gosto dos prêmios de design. Adoro, por exemplo, desenvolver joias para concursos de design nos quais os temas fogem da abordagem convencional do mundo das joias. Resíduos, alumínio são exemplos de temas de prêmios nos quais fui premiado. E não se esperava projetos de joias. Também é onde posso mostrar o que aprendi no curso de Design Industrial".   Na maioria dos países, lembra ele, prêmios de joias são "separados" dos grandes prêmios de design. "Acredito que o meu diferencial seja abordar a joalheria por outros meios que não só a estética. Demonstrando o potencial deste segmento em gerar emprego, renda e promoção de melhorias sociais e ambientais. Se você abrir uma revista de joias europeia ou asiática, vai encontrar peças minhas. Lá, sigo o comportamento do mercado. No Brasil, busco pensar fora da caixa".   JEWELLER   Edson Xavier foi listado na Hot 100 da revista Jeweller. "Fiquei surpreso, é um prêmio que reporta ao eixo da alta joalheria. Costumam citar somente profissionais das grandes empresas europeias e americanas".    "Entrei provavelmente pelo trabalho com a Swarovski". Mas a ideia de ranking causa um certo incômodo. "Meus anseios com o design, hoje, são outros. Venho realizando quase um trabalho de ‘catequese’. Tentando mostrar a empresas que o investimento na ferramenta design é primordial. E que para o desenvolvimento das indústrias brasileiras precisamos avançar nessa área, pela inovação e da busca por identidade".   "Fico feliz simplesmente com o fato de os produtos gerarem empregos para muitas pessoas. Para um designer com só cinco anos de atuação na joalheria, confesso que cheguei até a ficar envaidecido por alguns segundos. Mas logo percebi que minha realidade é outra ainda. De muito trabalho. Ou melhor, busca por trabalho (risos)".   SEQUÊNCIA   Hoje, prêmios e críticas positivas permeiam o caminho do mineiro. Mas nem tudo foram flores. Na adolescência, ao flagrá-lo desenhando, na última folha do caderno, esboços inspirados nas "Garotas do Alceu", uma professora disse que "aquilo" não levaria o estudante a lugar algum. "Rasgou, na frente de todos, a folha do caderno e a revista, já antiga à época. Ainda mais mulheres com pouca roupa".    Mas ele prossegue: "Estou até pensando em uma coleção de joias vintage que pretendo ilustrar naquele estilo de desenho", diz, sem qualquer rastro de traumas.   O interessante é que, até 2008, Edson não se imaginava enfronhado no universo do design de joias: sua primeira opção foi o desenho técnico na indústria automotiva. "Prestei vestibular para engenharia, pois ouvia de várias pessoas que não iria ganhar o suficiente para sobreviver, acabaria em feiras hippies. Mas foi importante também. Percebi que gostava muito de processos produtivos".   Antes, aos 14 anos, Edson teve sua carteira de trabalho assinada pela primeira vez por uma multinacional do ramo de sistemas e transportes. "Nas férias, ia para empresa ajudar no processo de fabricação, manutenção e restauro de locomotivas. Também trabalhei com projetos de torres, linhas de transmissão. Foi onde tive contato com algo raro na época: softwares de desenho e modelamento tridimensional".    No cômputo geral, foi com o que Edson esteve envolvido desde sempre: desenhos e projetos e produção de produtos. "Mesmo que em áreas mais técnicas ou simplesmente por hobby".   Atualmente, o belo-horizontino diz ter uma vida nômade. "Tenho clientes de consultoria em quatro estados e viajo muito para a Europa. Mas é muito difícil largar Minas. Gostaria de me estabilizar aqui, mas não temos um polo joalheiro organizado ainda. Somos conhecidos por, além das pedras preciosas, exportar bons designers", diz.    Para 2014, ele acalenta projetos como o de uma marca própria, focada na identidade brasileira. "Visando um posicionamento fora do mercado de peças que, hoje, sofrem com a concorrência desleal de produtos chineses e cópias".    SUSTENTABILIDADE   Foi há dois anos que Edson se filiou à causa sustentabilidade – e virou um empenhado militante. "Trabalhar com acessórios – que, ao contrario das joias, são descartados – me fez pensar. Ver um produto que você criou no lixo é estranho. Para onde este produto vai? Questionamentos assim me fizeram refletir. No final do ciclo, eu era um produtor de lixo".   Aliás, ele defende que os produtos oficiais da Copa do Mundo, por exemplo, deveriam se nortear por outros valores. "Gostaria de ver projetos que fortalecessem a identidade local, fundamentados em desenvolvimento sustentável e produção mais limpa. E que destacassem o nosso artesanato e a nossa diversidade. Além de dar uma contribuição enorme sobre conscientização. O futebol levantar essa bandeira, seria de grande ajuda". Para ele, cada estádio poderia ser uma "ilha cultural", na qual turistas conheceriam os demais estados e a cultura brasileira através do artesanato destas regiões.    NA VOGUE   Edson fala de cátedra. Um de seus projetos premiados (pela Alcoa, em Inovação do alumínio) tinha como pilar o desenvolvimento de joias em alumínio anodizado colorido, produzido por associações de catadores e recicladores. Como pano de fundo, a cultura do grafite. E o projeto foi parar na Vogue Gioiello.   O designer também já desenvolveu projeto com restos de mármores e granitos sintéticos da construção civil, restos de pias, tanques e pisos. Utilizando também essas pedras em acessórios – sim!  de joalheria. Já nas páginas da Vogue americana, ele foi parar por conta de seu trabalho no Vale do Jequitinhonha, com material reciclado de cerâmica   1) Você diz que, até 2008, não imaginava atuar como designer de joias... Mas, evidentemente, acredito que tenha sido uma criança e um jovem que sempre tenha se sobressaído pela criatividade... Essa criatividade, até então, estava sendo direcionada para onde? Gostava de desenhar, por exemplo?   Desenho desde os quatro anos de idade. Lembro-me de ter visto um caderno de desenho na casa de um amigo da família. Onde havia vários desenhos feitos com carvão. Lembro-me de chegar em casa e tentar fazer os mesmos desenhos usando carvão de churrasqueira. Mas não deu muito certo. Desde então, passei boa parte da infância entretido com desenhos. Minha brincadeira favorita era desenhar, e meus brinquedos favoritos eram o lápis de cor e a massinha de modelar. Na minha casa, existiam aquelas coleções sobre grandes pintores e estilos de arte, dessas que se compra em banca de jornal. Que são vendidas em fascículos. Enciclopédias ilustradas eram as minhas favoritas. Desenhava de tudo.   Mas passei um período longo sem desenhar, dos 13 aos 17. Aos 13 anos, uma professora me pegou desenhando e colorindo na última folha do caderno. Onde tinham alguns esboços, inspirados naquelas "Garotas do Alceu Pena". E me disse que aquilo não me levaria a lugar nenhum. Rasgou, na frente de todo mundo, a folha do caderno e a revista, já antiga naquela época, e me disse que desenho não me levaria a lugar algum. Ainda mais mulheres com pouca roupa. Por falar nisto, estou pensando em um coleção de joias vintage que pretendo ilustrar neste estilo de desenho.   Prestei vestibular para engenharia ao invés de outra área ligada a arte. Ouvia de várias pessoas que não iria ganhar o suficiente para sobreviver. Acabaria na feiras hippies. Mas foi produtivo também. Percebi que gostava muito de processos produtivos. Assisti muito castelo ao "Castelo Rá-Tim-Bum" da TV Cultura. Tinha um quadro chamado "Viu como se faz!", que mostrava processos produtivos de tudo. Desde um lápis até um carro. Exemplo fantástico de programa educativo.   Entrei no SENAI aos 14 anos. Fiz ferramentaria lá. E com a mesma idade tive minha carteira de trabalho assinada pela primeira vez por uma multinacional do ramo de sistemas e transportes. GE. Nas férias do curso, eu ia para empresa ajudar no processo de fabricação, manutenção e restauro de locomotivas. Também trabalhei com projetos de torres, linhas de transmissão. Foi onde tive contato com algo raro na época: softwares de desenho e modelamento tridimensional.    Foi com isto que estive envolvido desde sempre. Desenhos e projetos e produção de produtos. Mesmo que em áreas mais técnicas ou simplesmente por hobby.   2) Você tem 27 anos, confere? Nasceu em BH? Onde mora atualmente? Vem com constância a BH? Está vindo agora para o Natal?   Sim. Estou ficando velho. Estava pensando nisto estes dias. Já tem 14 anos que trabalho e estou envolvido com desenho, projeto e produção de produtos. Sou de Belo Horizonte. Atualmente tenho uma vida meio nômade. Tenho clientes de consultoria em quatro estados brasileiros. E também viajo muito para a Europa. Sempre passo as épocas festivas em BH. Já conversei isto com alguns outros mineiros que vivem em outros estados. É muito difícil "largar" Minas. Nosso ritmo, as peculiaridades de BH e região, você não encontra em outros lugares do mundo. Gostaria muito de me estabilizar aqui. Mas a cada dia fica mais difícil. Não temos um polo joalheiro organizado ainda. Somos conhecidos por, além das pedras preciosas, exportar também bons designers.   3) Quando se matriculou no curso de Design de Produtos e Engenharia de Produção, o que pensava? Como foi a conquista dessa bolsa no Centro de Design de Gemas e Joias da UEMG, como encarou?   Queria fazer um curso superior. Já tinha feito SENAI. Já estava trabalhando com projetos e queria mais conhecimento. Na verdade, entrei na engenharia civil, por já trabalhar com projetos de linhas de transmissão e torres. Migrei para mecânica e depois fui parar no LIDEP Laboratório integrado de design e engenharia do Produto. Que era na engenharia de Produção.    Eu trabalhava e estudava, mas quando entrei na faculdade, duas ao mesmo tempo. Não teria como estudar. Venho de família simples. E só podiam me ajudar com a passagem e o dinheiro para uma refeição ao dia. Enfrentei muito aquela antiga fila que servia marmita no restaurante popular para moradores de rua. Era mais barato e ajuda na passagem para universidade. Na época, a UEMG era ao lado do Parque de exposição da Gameleira, oposta a UFMG que ficava na Pampulha. Já andei muito do centro da cidade até a região do Barreiro, onde morava. Quatro horas andando a pé, porque tinha que tirar algum xerox de última hora. E saia do dinheiro da passagem.   Entrar para iniciação científica foi um método de conseguir uma forma alternativa de renda. Com a qual eu conseguisse continuar estudando. Coordenadores dos dois centros LIDEP e PROLAB- CEDGEM me ajudaram muito. Eu não tinha computador em casa, não podia voltar para casa no intervalo das aulas. E passei a quase literalmente morar nos centros de pesquisa. Os PHD`S Eduardo Romeiro - UFMG e Paulo Miranda - UEMG foram responsáveis por me direcionarem para a área de joalheria. Fui levado ao CEDGEM pelo Paulo Miranda, ele também foi o primeiro a me dar uma vaga de estágio no segmento de design de produtos na Quatter Design. Trabalhava com produtos metalomecânicos, eletrônicos e medico hospitalares. Meu projeto de graduação foi equipamento para transporte de órgãos humanos, destinados ao transplante, pelo processo de isquemia fria. Utilizando a tecnologia do efeito Peltier. Este projeto foi co-assistido pelo MG transplantes. Ironicamente perdi, dois anos depois, um tio, que ajudou a me criar, após um transplante de rins.   Participar da equipe do CEDGEM me deu oportunidade de conhecer mais do segmento joalheiro. Estar em contato com profissionais formadores de opinião e que desenvolvem tecnologia para o segmento. Foi experiência muito rica e produtiva.    4) Como teve contato com o feldspasto?   Feldspato é o nome de uma importante família de mineirais, do grupo dos tectossilicatos, constituintes de rochas que formam cerca de 60% da crosta terrestre. Cristalizam nos sistemas triclínico ou monoclínico. Os feldspatos possuem numerosas aplicações na indústria, devido ao seu teor em álcalis e alumina. As aplicações mais importantes são: Fabricação de vidro, de cerâmicas (é o segundo ingrediente mais importante depois das argilas, aumentam a resistência e durabilidade das cerâmicas).Como material de incorporação em tintas, plásticos e borrachas, louça sanitária, louça de cozinha, porcelanas para aplicações eléctricas. Em eléctrodos de soldadura, abrasivos ligeiros, produção de uretano, espuma de látex, agregados para construção.   O CEDGEM UEMG realiza um trabalho extraordinário no Norte de Minas. Que, a meu ver, é um modelo de referência para transformações socioambientais e culturais que necessitamos. Eu fui um dos colaboradores deste trabalho. Entrei numa fase que procedeu a fase de estruturação, onde foi implantado um laboratório de lapidação, mini fábrica, na cidade de Coronel Murta, na região do Vale do Jequitinhonha. Poderia ficar horas falando sobre este projeto. Mas, resumidamente, este projeto visava levar conhecimento e tecnologia para região.   5) Qual a sua proposta com essa linha?   Nesta linha, usei o mesmo conceito que utilizei em um projeto meu premiado pela ALCOA em Inovação do alumínio. Que visa desenvolver joias em alumino anodizado colorido, produzidas por associações de catadores e recicladores de alumínio. Utilizando como plano de fundo a cultura do grafite. No projeto que foi publicado na Vogue Gioiello; sobre reaproveitamento de aparas, restos de granito e mármore exóticos na joalheria. E no projeto que realizo com restos de mármores e granitos sintéticos da construção civil; restos de pias, tanques e pisos. Utilizando também essas pedras em acessórios de joalheria. Conceito este que pude ir aperfeicoando dentro do próprio CEDGEM.   O projeto buscou o maior aproveitamento das riquezas locais, utilizando resíduos da extração de gemas aplicados em 48 protótipos de linhas de produtos, além de capacitar 42 pessoas da região. Todas as atividades ocorreram no Laboratório ITAPORARTE de lapidação e artesanato mineral. Instalado pela UEMG e FAPEMIG em 2005. O intuito do projeto, que teve duração até 2011, é contribuir para a transferência de conhecimentos e o desenvolvimento de tecnologia própria associada a aspectos de inovação e design.   6) Foi a partir desde momento que resolveu abraçar o olhar da sustentabilidade?   Na verdade não. Só me atentei para esta questão há dois anos. Quando percebi que sustentabilidade poderia também ser sinônima de geração de empregos, renda e lucro. Alguns anos atrás, muitas das grandes marcas utilizaram o slogan "Design for life". Comecei a notar que a relação produção X consumo estava mudando. O aterro Sanitário de Belo Horizonte, inaugurado em 17 de fevereiro de 1975, às margens da rodovia BR-040, na região Noroeste da capital, deu início à correta disposição final de resíduos sólidos em Belo Horizonte, desde 2007. Sacolinhas plásticas foram proibidas. Uma imagem que tinha na infância da pegar sacola e ir à padaria comprar um refrigerante ou pão estava de volta. Teoricamente, estávamos regredindo, não por falta de matéria prima ou tecnologia. E sim pelo fato de não pensarmos na produção e consumo de uma forma mais ampla.   Trabalhar com acessórios de moda, que, ao contrário de joias, são descartados, também me fez parar para pensar. Ver um produto que você criou no lixo é uma sensação estranha. E agora? Para onde este produto vai? Foram produzidos milhares. Quando todos estiverem no lixo serão descartados onde? Estes questionamentos que me fizeram olhar para questão da sustentabilidade. No final do ciclo, eu era um produtor de lixo.   Tenho a visão que o termo resíduo não existe. O que tratamos hoje por resíduo; é somente uma matéria prima que ainda não sabemos ou não temos tecnologia de como processar. Este é o modelo mais adequado para nossa sociedade atual. Buscar tecnologias para processar materiais considerados resíduos e principalmente sempre buscar desenvolver projetos que tragam benefícios para sociedade.   Achei que os produtos oficiais da copa do mundo iriam seguir essa premissa. Gostaria de ver na lista dos brindes e produtos: projetos que fortalecessem a identidade local, que fossem fundamentados em desenvolvimento sustentável e produção mais limpa. E que principalmente destacassem o nosso artesanato e a nossa diversidade. Está aí outra grande oportunidade de negócios que estão deixando de abordar. Além de realizar uma contribuição enorme sobre conscientização. O futebol levantar essa bandeira seria de grande ajuda.   Fico pensando em quantos acessórios femininos e, por que não, masculinos, poderiam ser desenvolvidos. Fiz uma pesquisa e só encontrei: camisas, bonés e chinelos. E nenhum produto do artesanato brasileiro. Cada estádio poderia ser uma ilha cultural, onde turísticas tivessem a oportunidade de conhecer os demais estados e a cultura brasileira através do artesanato destas regiões. E claro realizar suas compras.   Mas isto é remediável. Se precisarem de um designer oficial, estou à disposição. (Risos)    7) Como foi esse trabalho como a Itaporarte? Qual a lição que apreendeu com a experiência?   Não sei se consigo descrever realmente a experiência. Quando fiquei sabendo que ia trabalhar em um região de Baixo IDH (índice de desenvolvimento humano) esperava encontrar uma região pobre até mesmo miserável. E foi o contrario. Encontrei uma região de uma riqueza humana e cultural imensurável. Se for falar das riquezas naturais, fauna, flora e mineral. Estamos falando de uma das regiões mais rica do Brasil. Estereótipos são armadilhas. Aprendi que todos os nossos problemas podem ser resolvidos com criatividade e principalmente como empenho.   8) Foi a partir daí que o seu trabalho ganhou mais visibilidade, confere?   Na verdade este foi meu primeiro trabalho na joalheria. Sim! Fui presenteado com a oportunidade de desenhar os produtos de um projeto que já vinha sendo estruturado já fazia alguns anos. O fato de ter sido premiado pelo SEBRAE também ajudou bastante. É um concurso muito concorrido. Um dos mais importantes do Brasil. Um dos mais criativos. Onde são apresentadas as propostas mais complicadas de serem trabalhadas. Esse primeiro projeto foi premiado também pelo IDEA Brasil. O Prêmio IDEA/Brasil é a edição nacional do maior prêmio de design dos Estados Unidos – o International Design Excellence Awards (IDEA) –, um dos mais respeitados do mundo que há mais de 30 anos premia empresas de todos os continentes, como Apple, Microsoft, HP e Philips. Também foi finalista da versão americana onde perdeu para um calçado da Nike. Já que foi inscrito na categoria acessórios. Nos EUA não tem categoria joias. Eu costumo brincar que sou campeão nos dois. Pois concorrer com de base artesanal num conceito socioambiental, numa categoria onde ele não se enquadra, contra um produto industrializado de uma das marcas mais famosas do mundo. É realmente uma covardia. Só o fato de estar concorrendo já é um prêmio raro. Parafraseando o ex-presidente : Nunca antes na história do design, deste país, um artesanato do norte de Minas concorreu contra um produto da Nike num premio Mundial de Design Industrial. (risos)   9) Verdade que já tem mais de 35 prêmios, entre nacionais e internacionais? Destacaria algum?   Sim. Até já foi tema de pesquisas por incrédulos. Como ele conseguiu tantos prêmios!   A questão é que não ganhei só prêmios com joias. E não costumo participar de prêmios só de joalheria. Gosto dos prêmios de design. Adoro, por exemplo, Desenvolver joias para concursos de design onde os temas fogem da abordagem convencional do mundo das joias. Resíduos, alumínio são exemplos de temas de prêmios onde fui premiado. E não se esperava projetos de joias.    Também é onde posso mostrar o que aprendi no curso de Design Industrial. Prêmios de joias, em sua maioria, são, em toda parte do mundo, separados dos grandes prêmios de design. Acredito que o meu maior diferencial seja abordar a joalheria por outros meios que não só a estética. Demonstrando o potencial deste segmento em gerar emprego, renda e promoção de melhorias sociais e ambientais. Se abrir uma revista de joias europeia ou asiática vai encontrar peças minhas; lá eu sigo o comportamento do mercado. No Brasil, busco pensar fora da caixa.    Outra questão interessante é o processo de avaliação dos prêmios. Ser finalista de um concurso, aqui no Brasil, principalmente os de joias; quer dizer que você ficou entre os três projetos finalistas e será escolhido somente um grande vencedor. No exterior, são premiados os quatro primeiros lugares e ainda costuma ter uma menção honrosa. Se eu contar todas as finais no sistema que é usado no exterior e pelo qual avaliam meu trabalho lá fora, já devo ter mais de 40 prêmios, contando prêmios nos setores: moveleiro, de embalagens, House & Gift e automotivo. Sem contar também premiações dadas por revistas e associações joalheiras aos produtos que desenhei para empresas que presto serviços. Abaixo alguns dos prêmios.   2012 - Prêmio SEBRAE Minas Design III, SEBRAE MG.  2012 - Prêmio IBGM de Design de Jóias, IBGM-Instituto Brasileiro De Gemas e Metais.  2011 - Prêmio Life Style Design Competition 2009, SWAROVSKI GEMS.  2010 - Prêmio SEBRAE Minas Design II, SEBRAE MG.  2010 - Prêmio IDEA/USA,International Design Excellence Award, Industrial Designers Society of America (IDSA).  2010 - Prêmio IDEA/BRAZIL,International Design Excellence Award, Industrial Designers Society of America (IDSA).  2009 - Prêmio IDEA/BRAZIL,International Design Excellence Awards, Industrial Designers Society of America (IDSA).  2009 - Prêmio IBGM de Design de Jóias, IBGM-Instituto Brasileiro De Gemas e Metais.  2009 - Prêmio Minas Design, CMD GOV MINAS GERAIS.  2009 - Prêmio Alcoa de Inovação em Alumínio, ALCOA.  2009 - Prêmio SEBRAE AMAPÁ DESIGN , SEBRAE AMAPÁ  2009 - Prêmio Thailand International Jewelry Awards Gems and Jewellery (TIJA2009), THAI GEM JEWELRY TRADES ASSOCIATION  2009 - Prêmio TOP 30 DESIGNS PASSION DELUXE Passion Topaz Jewellery Design Competition 2009, SWAROVSKI GEMS.  2008 - Prêmio EM à Porter 80 Anos, Jornal ESTADO DE MINAS.  2008 - Prêmio SEBRAE Minas Design I, SEBRAE MG   10) Que lista é essa, dos designers, que você entrou, e como isso tudo se processou?   Aparição singela, no HOT 100 da revista jeweller onde são listadas as 100 melhores empresas, profissionais e jovens talentos da joalheria. Fiquei surpreso, pois se trata de um prêmio que reporta ao eixo da alta joalheria. E costumam citar somente profissionais das grandes empresas europeias e americanas. Entrei muito provavelmente pelos trabalhos realizados para a Swarovski. Aquelas seleções que grandes veículos de mídia especializada fazem. E incrivelmente tem repercussão maior, às vezes, do que outros grandes feitos que você possa ter realizado.    Essa ideia de ranking me incomoda. Meus valores e anseios com design, hoje em dia, são outros. Venho realizando quase um trabalho de "catequese". Tentando mostrar para empresas e empresários que o investimento na ferramenta design é primordial. E que para o desenvolvimento das indústrias brasileiras precisamos avançar nessa área. Mostrando a importância da inovação e da busca por identidade.   Fico feliz simplesmente com o fato dos produtos venderem bem e gerar empregos para muitas pessoas. Para um designer com só cinco anos de atuação na joalheria, confesso, cheguei ate a ficar envaidecido por alguns segundos. Mas logo percebi que minha realidade é outra ainda. De muito Trabalho. Ou melhor, busca por trabalho. (risos).   11) E, daí, entramos na parceria com a Swaroski... Vamos voltar a antes de 2008... Você, que até então não imaginava ser designer de joias, conhecia esse nome, o peso dele? Como foi (está sendo) a parceria?   Honestamente, não muito, já tinha ouvido falar em cristais Swarovski. Mas nunca nesta divisão para a qual trabalho. Ela é uma divisão de alta joalheria que trabalha com pedras preciosas. Chamada Swarovski Gems. Diferentes dos cristais que são utilizados em bijuterias e semi joias e são da Swarovski Elements. Desde 2011, participo de um caderno de tendências chamado GemVisions Preview. É composto por peças feitas exclusivamente para representar as tendências. É a principal ferramenta de marketing da Swarovski Gems; onde designers convidados têm total liberdade para criar peças sem se preocupar com custos ou limitações produtivas. É o estado da arte. Já a segunda versão, GemVisions, já é composta por peças de empresas que utilizam as pedras preciosas da marca. Eu já participei das versões 2013, 2014, 2015. O caderno de 2015 será lançado em meados do ano que vem. Tenho peças em ambos. Mas minha maior participação é no GemVisions Preview, sempre tenho entre 25% do total de peças.   Também participei, no ano passado, do lançamento mundial de novos modelos de lapidação da marca. Dois grandes lançamentos, um de uma gema chama marcassita. E outro em exclusividade, fui o designer tema, que era dos novos modelos de lapidação de zircônia Pure Brilliance; que tem brilho que se iguala à lapidação de um diamante tolkowsky. Considerado o exemplo de maior perfeição conseguida em lapidações.   Tenho outros projetos em estudo que envolvem o Brasil. Ideias que sugeri e gostaria que fossem implantadas. Venho negociando com a matriz. Mas é um processo longo. Estamos falando da maior e principal marca de cristais e excelência em lapidação do mundo.   12) Você diz pinçar referências de vários recortes, do grafite à arquitetura... Como vai decodificando tudo, como essas referências deságuam em uma peça?   Por incrível que pareça, saber o que vai desenhar e porque está desenhando dá mais trabalho do que o simples fato de desenhar. O que naquele desenho vai ajudar a garantir sua margem de vendas num universo de milhares de produtos similares. Não ter um concorrente similar já é uma questão complicada de ser resolvida.   Acredito que, para chegar numa peça ou numa solução de projeto, você precisa se envolver com o problema proposto. Às vezes me chamam porque os produtos não estão vendendo bem. Aliás, esse é o motivo pelo qual me chamam mais atualmente.   E às vezes a solução não é um desenho novo. A estratégica de mercado da empresa é fator principal dos problemas. E ela se desdobra desde a escolha correta do público alvo até os mecanismos de vendas. À medida que uma marca ganha destaque, a necessidade de respostas imediatas aumenta. Antecipação de tendências e necessidades de consumo e, principalmente, a palavra mais complexa da atualidade: inovação. E ela não é resolvida só com desenho.   Voltando à questão do processo criativo e, principalmente, da estética das peças, procuro observar o cliente final. O que ele valoriza, com quais outros produtos interage. Em qual, ou quais, grupos sociais está inserido. A partir dai, vou fazendo um levantamento das referências estéticas que são relevantes para este cliente. Vivemos numa sociedade repleta de ícones e símbolos. Um exercício fácil para perceber isto é pensar em estilos musicais. Por exemplo, pense num cantor de rock, agora, num cantor sertanejo e, por último, num cantor de samba. Por mais que não existam regras a cada um dos estilos, até no tipo físico da pessoa você deve ter pensado. Todas essas características que, por ventura, você imaginou. Definem, ou caracterizaram, de alguma forma, aquele grupo especifico. Uma peça é composta sempre de alguma ou algumas destas características. Seja uma cor, uma imagem ou qualquer outro elemento que possa ser uma ponte para que este usuário se identifique com este produto.    A decodificação dessas referências fica a cargo de ferramentas como Gestalt ou psicologia da forma, de limitações produtivas ou de materiais, pesquisas com grupos focos ou de informações práticas; que você adquire em observar a relação das pessoas com as joias e acessórios. Mesmo assim, não se trata de uma ciência exata. Talvez esteja mais próximo da alquimia. Gerar alternativas a partir das referências visuais ou informações que consumo, que você tem, é uma etapa até fácil. Envolve criatividade. As etapas mais complicadas são as de adequação das ideias com as realidades comerciais, tecnológicas e produtivas da empresa e, principalmente, do mercado e concorrentes.   13) Quais seus planos para 2014? E para o futuro?   Tenho projeto de uma marca própria focada em identidade brasileira e outras questões que citei. Visando um posicionamento fora do mercado de peças que sofrem com concorrência desleal de produtos chineses e cópias. Pretendo reunir alguns dos projetos que citei. Venho estudando novas possibilidades dentro do mercado de joias e acessórios. Joias fashions, que são peças com comportamento igual ao de produtos tais como roupas e sapatos. Baseadas nas estações e comportamentos da moda; e não necessariamente feitas com materiais preciosos, onde o apelo do design é o principal diferencial. Em nichos de consumidores que o mercado de joias e acessórios não atende atualmente. Pretendo me aproximar também de instituições de ensino. Venho notando o déficit que temos em mão de obra qualificada, quando comparado com outros países. Joalheria necessita de uma mão de obra que tenha um tempo de formação e maturação maiores. E formar um mestre ou um artesão não é uma tarefa fácil. Muitas das profissões que estão presentes na produção de joias são artes e ofícios. E cada vez é mais difícil encontrar lapidários, ourives e cravadores com experiência. Muitos dos cursos não são voltados para segmentos de acessórios. Há etapas do processo onde jamais a máquina vai superar o homem. Necessitam de sensibilidade e criatividade. Joalheria é umas das expressões artísticas mais antigas da humanidade.

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