Eduardo Jardim analisa o país através de Callado, Gal e Ana Cristina César

Thiago Pereira
almanaque@hojeemdia.com.br
08/12/2017 às 14:52.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:08
 (DIVULGAÇÃO)

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Eduardo Jardim, filósofo e ganhador do prêmio Jabuti de 2016 por “Eu Sou Trezentos”, sobre Mario de Andrade, parece acreditar que as emissões culturais, como a literatura, o teatro, o cinema, as artes visuais e a música são meios precisos para se narrar um tempo específico.

Depois de se debruçar pela construção de um Brasil moderno e modernista, em suas análises sobre Andrade, Jardim narra, em “Tudo em Volta Está Deserto”, sua nova obra, uma espécie de ressaca de um “período de ruptura com expectativas, ideias, projetos que certamente tinham amadurecido nos anos 1960”, como aponta.
Para isso, tece no livro uma espécie de linha narrativa que conecta três marcos culturais importantíssimos para o Brasil: “Quarup”, livro indigenista de Antônio Callado; “A Todo Vapor”, o show-catarse de Gal Costa e o surgimento da poesia urbana e referencial de Ana Cristina César. Três excelentes curingas que dão, cada um a seu modo, cartas de orientações em um Brasil ditatorial.

Como testemunha afetiva-ocular destes momentos, Jardim, um às de delicioso e denso texto, conecta suas memórias com análises potentes sobre tais obras/ períodos/artistas. “Com certeza isso foi o ponto de partida”, reconhece. “Eu tinha muita dificuldade de entender esse momento que vivi, um período muito nebuloso, que sempre tive vontade de revisitar. É óbvio que tem uma motivação biográfica, mas é apenas um ponto de partida. A intenção era avivar a presença das coisas sobre as quais estou discorrendo”.

OBRAS
Vale destacar que a eleição feita por Jardim se mostra extremamente eficiente e sedutora, do ponto de vista de pensar um país bafejado por projetos diversos (Tropicália, poesia marginal, literatura realista) que encontravam uma espécie de inimigo comum e permanente nos anos de chumbo.

“Em ‘Quarup’ minha ideia era conferir a tese de que a literatura e a leitura possuíam um papel de intervenção, como mobilizador político. Em ‘A Todo Vapor’, temos um segundo momento, contra-cultural, no início dos anos 1970. Ainda que o show seja mais que isso, tinha ali uma experiência mobilizadora de diversas coisas”.

Talvez o destaque do livro seja a seção dedicada à a poeta Ana Cristina César, ainda uma espécie de enigma da arte nacional, e com quem Jardim teve proximidade. “Ela lida muito com tensões construtivas da poesia, oposições, o público e privado, o documental e o ficcional. Em Ana temos uma conversa mais deixada em aberto, um negócio em movimento, que põe a gente em movimento também”, diz.

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