(Reprodução/Instagram)
O cinema autoral de Phillippe Garrel não corre o risco de se tornar repetitivo quando ele apresentar obras como À Sombra de Duas Mulheres. Seu olhar sobre as relações humanas apontam para detalhes que, se aparentes na primeira impressão, logo se tornam determinantes.
Aqui, Pierre e Manon formam um casal de documentaristas e, apesar de estar apaixonado por Manon, Pierre conhece Elizabeth, cai de amores por ela e deseja manter o relacionamento com as duas mulheres. Claro que não vai dar certo e, do desencontro, Garrel aproveita para mostrar como um triângulo amoroso pode ressaltar a equalização na libido de homens e mulheres.
Como já noticiou Rodrigo Fonseca, blogueiro do Estado, na visão do diretor, "ambos os sexos têm fome (e direitos) para desejar com quantidade e qualidade, apesar de a moral ocidental propor que só o macho da espécie tem licença para o cogito anticartesiano 'Cobiço, logo existo'". Fonseca arrisca dizer (e vários críticos concordam) que se trata do melhor longa de Garrel desde Amantes Constantes, de 2005.
O clima é reforçado ainda pela trilha sonora de Jean-Louis Aubert e a narração de Louis Garrel, filho do diretor. O curioso é que À Sombra de Duas Mulheres forma uma trilogia com O Ciúme e O Amante de um Dia, este recentemente exibido nos cinemas brasileiros. "As três partes tratam, de forma geral, da sexualidade feminina", observou o crítico do Estado Luiz Zanin Oricchio. "E, em particular O Ciúme e À Sombra, que expressam uma carnalidade que antes não se encontrava no cinema de Garrel. Na crítica dos Cahiers du Cinéma, Stéphane Delorme a atribui à influência do corroteirista Jean-Claude Carrière, que, como todos sabem, escreveu vários filmes de Luis Buñuel." E completa: "Esse novo 'corpo' lhe dá uma densidade, sem perder a leveza que sempre teve".
À Sombra de Duas Mulheres / L’Ombre des Femmes
(França-Suíça/2015, 73 min.)Dir. de Philippe Garrel. Com Louis Garrel, Stanislas Merhar