Em BH, tipógrafo Ademir Matias de Almeida mantém vivo ofício herdado do pai

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
18/12/2014 às 07:33.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:25
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Hoje em Dia)

Entre máquinas que já saíram de linha e um amontoado de papéis amarelados, trabalha um senhor de olhos azuis com face rosada e barba branca. Sim: também é dezembro, mas não se trata do Papai Noel.

“Embora eu tenha até recebido o convite pra assumir o posto do bom velhinho em um shopping da cidade”, revela às gargalhadas o belo-horizontino Ademir Matias de Almeida, proprietário da que se diz última tipografia de Belo Horizonte – uma das formas mais primitivas de impressão ainda existentes. “Eu me sinto como se estivesse em uma festa que já acabou. Uma festa da qual todos foram embora. Estou fazendo carreira solo”.

E não é exagero. Ao longo do século 20, a tipografia perdeu espaço para incontáveis inovações no segmento da tecnologia gráfica.

Para Matias, nos últimos cinco anos a situação ficou ainda mais complicada. “As impressões offset e a digital fazem em segundos o que a tipografia demora horas para produzir. Elas oferecem resultado mais rápido, com perfeição e assepsia próprias da impressão digital. Já a tipografia é um serviço difícil de vender porque é rústico, lento e o mundo tem pressa”.

Aos 66 anos, ele toca a Tipografia Matias – empresa herdada do pai e instalada na rua Padre Manoel Rodrigues, no bairro Santa Efigênia, desde 1958.
“Há dez anos eu tinha cinco funcionários e muito mais trabalho. Hoje consigo fazer tudo sozinho, mas não tenho escolha. É isso que sei fazer e é isso que gosto de fazer. Quando as pessoas perguntam há quanto tempo trabalho com tipografia devolvo: ‘posso incluir os 9 meses na barriga da minha mãe?’ Eu não tinha nascido, mas sei que já trabalhava com tipografia”, brinca.

Uma paixão e vocação que, infelizmente, não foi transmitida para suas duas únicas filhas. “Uma é economista e a outra trabalha na área da informática. Olha só que ironia! Elas não sabem nem ligar essas máquinas”, ri Matias apontando para as prensas.

Há três anos, no entanto, ele foi convidado a ministrar workshops com carga horária de 16 horas para estudantes de design. Desde então foram 32 turmas.
“Qualquer um que dê prosseguimento à profissão vai fazê-lo por amor porque uma tipografia não é mais viável economicamente. Sempre que me perguntam porque insisto, cito aquele ditado: ‘se és feliz em uma cabana, por que viver em um palácio?’”
 

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