Entrevista: Rui Rezende: ‘O país está à deriva como um navio’

Pedro Artur - Hoje em Dia
28/09/2014 às 08:51.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:23
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

Seu trabalho é reconhecido pela crítica e pelo público. Fracasso mesmo, só o financeiro, queixa-se o ator Rui Rezende, mineiro de Araguari, “caminhando”, como ele mesmo diz, para os 76 anos, e quase 50 de carreira (iniciada nos anos 60).    Há oito anos, o artista trocou o Rio de Janeiro e São Paulo por Belo Horizonte, por conta do amor e amizade que tem por Eva Maria, sua ex-mulher.   Com mais de 40 trabalhos na TV – entre os quais sucessos como “Beto Rockfeller”, “Roque Santeiro”, “O Espigão”, “A História de Ana Raio e Zé Trovão” – Rui confessa que não vê e nem gosta de assistir a novelas. “Não vi nem ‘Roque Santeiro’”, novela em que interpretava o sinistro professor Astromar Junqueira, homem que, nas noites de lua cheia, se transformava em lobisomem. “Novela é uma coisa escravizante”, dispara o ator, que gravou recentemente, em São Paulo, a série “Motel”, da HBO, onde interpreta o porteiro do estabelecimento. A produção ainda não tem data para estrear. Além de falar da carreira, Rezende dispara contra as mazelas do país. “Os candidatos e os eleitores são ruins. O país está à deriva como um grande navio no oceano, e não vai para lado nenhum. São muitas promessas”, diz ele, em entrevista à nossa reportagem.   Você mora há quanto tempo em Belo Horizonte? Desde 2006.   E o que te trouxe à cidade? Aqui tem uma pessoa que eu amo muito. Ela é a mãe da minha filha. A gente nem mora junto. Mas eu vim para cá por causa dela. É minha amiga. Uma grande amiga mesmo. Eu quero ficar perto dela, ficar telefonando todo o dia. Se precisar de alguma coisa, ‘vem cá tomar um café’, diz ela. Corro para lá.   Que trabalhos te marcaram e que você lembra com carinho? Fiz o Curió, que era um filósofo e bebia muito, em “Voltei para Você”, e “Sinal de Alerta”, do Dias Gomes. Interpretava um vendedor.    E o professor Astromar, de 1985, que todo mundo lembra? Ali eu tinha um tipo. Escolheram pelo tipo estranho, cheio de “não sei o quê”. Eles precisavam de um cara para ser lobisomem.    São mais de 40 trabalhos para a televisão. Você se via atuando quando estava no ar? Não acompanho nenhuma novela. Acho uma coisa aborrecida. Prefiro ver uma série norte-americana. Como trabalhador, até gosto de fazer.    Nem “Roque Santeiro”? Eu não vi nem “Roque Santeiro”. Não tinha televisão em casa na época. Claro que depois eu vi outras novelas. Eu vi uma ou duas, alguma coisa assim.   Você não sente mais prazer em fazer novela? Não é que não tenha prazer. Não sou chamado mais. Não faço parte do figurino. Novela é uma coisa muito comercial. É muito difícil. Não quero dizer que não vá fazer mais. De repente, surge. Mas é muito difícil.   E cinema e teatro como estão? Faço série para a televisão, para a HBO. Chama-se “Motel”.    E como você vê o atual momento do país? Está muito ruim. Porque os candidatos e os eleitores são ruins. O país está à deriva como um grande navio no oceano e não vai para lado nenhum. Eu não estou acreditando em nada. Tem muita promessa. E esse avanço exagerado das religiões. Nunca vi tanta ignorância, tanta estupidez.   Dessa forma, você quase não vê perspectiva para o Brasil? O problema é o seguinte: fala-se muito em educação, mas ela está muito devagar. Quando entrou o partido que está no poder, eu fiquei muito otimista. Pensei, bom, o líder nunca foi à escola, então vai querer que o povo vá para a escola. Ficou muito pior. Uma esculhambação. Você vê escândalo e ninguém liga.

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