"Nômade": muito mais do que a questão geográfica, o nome do novo espetáculo da Companhia Mário Nascimento traz à tona o impulso que faz o homem buscar algo a mais na vida e que indiretamente liberta o pensamento.
O espetáculo, que tem estreia nacional nesta quinta-feira (4), em Belo Horizonte, e que marca os 15 anos da companhia, traduz muito a vida do próprio diretor, que dá nome ao grupo.
Numa simpática e franca conversa, o coreógrafo, que se autointitula um homem inquieto, consegue transmitir toda a grandiosidade de sua pessoa que começou como artista underground e criou sua própria companhia, que está entre as três melhores de Minas Gerais.
"Ser nômade não é só o deslocamento geográfico de seres. É um processo contínuo de transformação", conceitua o coreógrafo.
Desfecho
O novo espetáculo é o desfecho de uma trilogia que versa sobre a territorialidade, suas diversas funções e sentidos. A obra une-se a "Escapada" (de 1998 – o primeiro trabalho do grupo) – e a "Território Nu" (de 2011), para discutir questões como o lugar do indivíduo no mundo, o ultrapassar de fronteiras de todos os tipos e as possibilidades de libertação e transcendência do pensamento e da criatividade humana.
Segundo Mário, "Escapada" é o homem em fuga, tentando fugir dele mesmo. Já "Território Nu" vem de encontro à tentativa do nosso grupo de buscar ‘um território’, uma sede própria. "Nômade" fecha o ciclo e trata daquele que vive dentro de nós, que precisa ser ouvido e alimentado para que não nos tornemos imóveis e pesados blocos de concreto".
A metáfora é passada pelos dançarinos por meio de solos, mas sem um lugar fixo para atuar. Uma maneira, como explica o coreógrafo, de não se apegar a seu lugar. O deslocamento cênico é constante. "Trata-se de um nomadismo cênico. Eu me acostumei assim e trouxe isso para o meu trabalho. É preciso tirar o bailarino de sua zona de conforto. Essa dificuldade é fundamental para podermos desenvolver o trabalho. Eu, particularmente, preciso desse abismo para seguir em frente", declara o coreógrafo.
Mudanças
O próprio grupo sofreu mudanças, principalmente durante o festival " Palco Giratório" (dos 70 espetáculos da Cia., 50 foram feitos no "Palco Giratório"). "Foi um desafio para a companhia e confesso que Nômade nasceu ali", destaca o coreógrafo.
Na época, saíram os dançarinos Aretha Maciel e André Rosa; entraram Alicia Lynn, Gustavo Silvestre e Marcella Gozzi.
Já está na agenda, um duo: Mário Nascimento e Rosa Antuña, em Agosto, em Nova York. Para 2014, o grupo programou uma semana de espetáculos também naquela cidade.
Linguagem se renova a cada apresentação
Mário Nascimento trabalha com uma linguagem muito específica, desenvolvida há mais de 20 anos, que se materializa e se renova a cada apresentação de sua companhia.
Por meio da dança – sustentada por uma conexão com a música - incorpora recursos das artes cênicas, poesia, canto e voz.
O grupo, hoje, conta com oito bailarinos vindos de diversos cantos, o que consequentemente interliga-se com o conceito de seu mais novo espetáculo: "Nômade".
Equipe
O próprio Mário Nascimento dirige "Nômade", assim como a coreografia. A assistência de direção e coreografia é da bailarina Rosa Antuña e a trilha sonora do maestro e multi-instrumentista Fábio Cardia, parceiro antigo de Mário.
Serviço
"Nômade" - Estreia nacional em Belo Horizonte: De quinta (4) a sábado (7), às 21 horas, no domingo (8), às 19 horas, no teatro Oi Futuro Klauss Vianna. Entradas a R$ 15 e R$ 7,50 (meia).