(Marina Mitre/divulgação)
Num primeiro momento, o convite da Cia Ananda para assistir a um espetáculo de dança com os olhos vendados pode parecer descabido. Afinal, como apreciar o desenrolar de belos movimentos no palco sem efetivamente olhar? Com as produções “Olhos Meus” e “Lágrimas da Floresta” (infantil) – que serão apresentadas gratuitamente em vários espaços da capital até setembro – a ideia é que o público possa ver de outra maneira, apreciando ou mesmo descobrindo a coreografia com a ajuda de outros sentidos: tato e audição. Para a experiência, cada pessoa do público é acompanhada de um bailarino.
No caso de “Olhos Meus”, voltado para o público adulto, 18 pessoas são convidadas a embarcar nessa jornada. Sem uma temática pré-definida, o espetáculo explora o caráter sensorial da dança. “É um lugar de partilha, de investigação. É muito poético”, define a coreógrafa e bailarina Anamaria Fernandes. Ela destaca que, embora exista a possibilidade de audiodescrição, o que torna os espetáculos acessíveis para pessoas com deficiência visual, a ideia das produções é ultrapassar esse limite. “São produções concebidas totalmente para serem sentidas. A transmissão da dança é feita pelo tato, pelo som da respiração, da energia dos movimentos, da presença dos corpos”, explica.
Com o mesmo objetivo de priorizar as sensações, a produção se desdobrou também no espetáculo infantil “Floresta em Lágrimas”.
“A diferença é que nele temos um roteiro, que foi inspirado em contos indígenas”, explica a coreógrafa. Na produção infantil os pequenos são convidados a proteger uma floresta. Outra diferença é a quantidade de espectadores a cada experiência. Como é voltada par a crianças, a produção é destinada ao dobro de pessoas, já que os pequenos sempre estão acompanhados de um adulto – além do bailarino.
Proximidade
“O público está conosco e, como estão vendados, existe uma relação de confiança que é forte e também partilhada com o dançarino”, ressalta a coreógrafa. Além da relação mais próxima construída com o espectador, os espetáculos aproximam o público do próprio fazer da dança, proporcionando uma experiência bem particular. “Cada pessoa tem uma experiência única e singular, que depende do quanto você consegue se soltar, dos seus medos, de suas restrições”, afirma Anamaria Fernandes, acrescentando que a resposta do público tem sido muito positiva.
“Fizemos uma apresentação no Sesc Piracicaba (SP) e na Funarte e tivemos a presença de pessoas não só da dança, mas também de outros campos. Embora haja um medo inicial, por ficar cerca de uma hora com os olhos vendados, a dinâmica é aberta e as pessoas passam a entender que esse é um momento de compartilhamento, de apreciação e não de medo”, pontua.