Estranheza versus doçura no mundo da música

Elemara Duarte - Hoje em Dia
15/02/2015 às 09:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:02
 (Edson Kumasaka/Divulgação)

(Edson Kumasaka/Divulgação)

“Estou fazendo uma crítica às músicas fofinhas!”. Essa é a justificativa que o músico e ator Carlos Careqa dá para o título do mais recente disco: “Por um Pouco de Veneno”. O CD traz também as vozes das cantoras Fabiana Cozza e Bruna Caram. Com 13 faixas, o álbum foi gravado ao vivo, no ano passado, e faz homenagem ao músico americano Tom Waits, famoso por composições inusitadas.

Ao se incomodar com esse universo de músicas “fofas” – que predominam no universo cancioneiro do Brasil –, ele buscou socorro na obra e na figura intrigante de Tom Waits, um “amigo invisível”, que o faz compreender e dar “um chega para lá” na falsa doçura maquiada como arte. O disco traz versões em português das músicas do americano.

Careqa até escreveu uma cartinha para Tom Waits, contando sobre a identificação com o artista desde 1986. O texto está impresso no encarte do CD: “Através de suas canções posso entender um pouco e outro tanto me faz ficar perdido neste mundão”. “Mandei, mas ele não respondeu. Eu tinha feito esta cartinha no outro disco (“À Espera de Tom”, lançado há sete anos)”, lembra.

“Um Pouco de Veneno” é a versão para a composição de Waits intitulada “Little Drop of Poison”. É a faixa “um”: “Não é mole não, eu fumo amigo até a bagana/ e eu me sinto bem, depois da chuva na minha cama”.

Dos males, o menor

É o que é. Assim, aos 53 anos, com “um pouco” de veneno escorrendo pelo canto da boca e uma dezena de discos autorais no currículo (trabalhos sempre conceituais), Careqa entende que neste mundo ser artista é, “dos males, o menor”.

Desconhecido do grande público, Tom Waits é cultuado por nichos de fãs. “Muita gente já estava fazendo isso que eu fiz. Encontrei versões até em hebraico”, diz Careqa.

Ele explica que no processo não se apoderou da obra de Waits. “Na lei de direitos autorais, o ‘versionista’ (sujeito que faz versões) é apenas um tradutor”, avisa.

Em outra faixa do disco, Fabiana Cozza deixa o samba de lado e entra como uma diva do blues em “Perdoa Minha Cara”, versão para “I Beg Your Pardon”.

A letra: “Tava nervoso/ perdi o chão/ não quis dizer o que saiu/ você é um mistério para os meus sonhos/ querida me perdoa”. Bate, assopra e, certamente, vai bater de novo. Sem “fofurice”, sem nada. 

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