Estreia, "As Sessões" retrata os percalços de um homem com "pulmão de aço"

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
15/02/2013 às 10:00.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:01
 (Fox)

(Fox)

Embora retrate os percalços de um homem com "pulmão de aço", ligado a um aparelho respiratório, sem condições de andar e de saúde extremamente frágil, "As Sessões" está menos preocupado com a limitação física do protagonista. Com estreia nesta sexta-feira (15) nos cinemas, o filme de Ben Lewin se interessa, sim, por um problema que surge ainda mais grave para o jornalista e poeta Mark O’Brien: o confinamento que sua própria mente impõe, principalmente do ponto de vista religioso.

Carregado de culpas e medos, ele se torna estranho à própria realidade de quem tem deficiências semelhantes. O roteiro parte da ideia de que, na atualidade, a questão da inserção na sociedade não é mais tabu, com exemplos de readaptação bem-sucedida.

Homem ideal

É assim que surge a figura de uma terapeuta sexual (Helen Hunt, indicada ao Oscar de coadjuvante). Tudo o que pode tornar a vida de O’Brien mais fácil, até mesmo a solução amorosa, parece estar ao alcance dele, um homem inteligente, de bom humor e sensível.

Por ser assim, tão especial, suas exigências passam a ser de outra ordem: um amor verdadeiro, em que tudo começa por um simples "eu te amo", e a necessidade de dar satisfação ao outro. Questões que estão na órbita das principais discussões sobre as relações de hoje.

Ele seria uma espécie de homem ideal, como mostra o crescente carinho da terapeuta, que vai além do trabalho de mostrar que o sexo não é um bicho de sete cabeças, mesmo em sua condição? Cheryl não é uma prostituta, como frisa, mas sabe tudo de sexo.

Infidelidade

E o fato de essa mulher, que é casada e tem filhos, se deixar envolver pelo ideal de amor de O’Brien é o elemento que torna o jornalista um homem como os outros. Lewin realiza uma interessante transferência de dilemas.

No lugar de o protagonista se martirizar por suas limitações e frustrações, o mais relevante é a tortura mental sofrida por Cheryl, que se vê lançada contra a sua ética – a de não aproximação afetiva com seus pacientes. Além, é claro, da traição, que não deixa de ser curiosa. É outra "ousadia", por assim dizer, da narrativa: a infidelidade não está na prática sexual, mas na mente. Cheryl não vê problema em satisfazer os desejos de O’Brien, mas se sente abalada quando percebe que a relação pode tomar outro rumo.

Fábula

Apesar dessa franqueza moderna, "As Sessões" carrega a mesma moral de "Forrest Gump" (1994), de Robert Zemeckis, em que o sujeito inferiorizado por sua deficiência acaba prevalecendo sobre a mulher loira, "normal’ e supostamente preparada para a vida.

Há uma ênfase na ingenuidade do jornalista, pintado quase como uma criança na maneira como confronta seus medos, o que faz dele o Gump interpretado por Tom Hanks.

O tom de fábula é similar, incluindo a narração em off – no caso de "As Sessões", há uma licença curiosa que remete ao personagem Brás Cubas, de Machado de Assis, quando conta sua história de vida após sua morte.

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