Exibido no início dos anos 70, "Valerie e a Semana das Maravilhas" é lançado em DVD

Lançado em DVD pela Lume Filmes, "Valerie e a Semana das Maravilhas" se divide entre a fantasia de "Alice no País das Maravilhas", carregando o olhar curioso de uma menina pelo universo ao seu redor, e o terror de um filme sobre vampiros, quando católicos são apresentados como sanguessugas.   Exibido no início da década de 70, o filme do diretor checo Jaromil Jires é uma grande metáfora sobre a transformação de uma garota de 13 anos em mulher. As cores branca e vermelha não surgem por acaso, simbolizando a chegada da menstruação, com tudo o que representa: sexualização e perda da pureza.   Baseado no livro do poeta moderno Vítezslav Nezval, "Valerie" é como um belo e angustiante sonho, em que homens ganham forma de animais e os elementos da natureza, como água e fogo, ajudam a formar, quase de maneira didática, o seu conceito, aproximando-o do surrealismo.   Tensão sexual   À avô, ela informa que "não é mais criança" e, apesar do mal que parece a espreitar, Valerie estampa uma curiosidade pelo futuro, ao mesmo tempo exalando certo erotismo – endossado pela câmera de Jires, que parece sempre desejá-la. A atriz Jaroslava Schallerová, que tinha a mesma idade da personagem à época, corrobora para criar essa tensão sexual.   Oriundo da famosa Escola de Cinema e TV de Praga, Jires também estabelece uma crítica ao catolicismo, na maneira como a religião concentra boa parte do medo da protagonista, especialmente em relação ao bispo, que se assemelha fisicamente ao vampiro Nosferatu do diretor alemão F. W. Murnau, de 1922.   Apesar de seus simbolismos terem ficado um pouco datados, "Valerie" ainda é um interessante retrato da Nouvelle Vague tcheca, rico movimento que também reuniu Milos Forman (que mais tarde se radicaria nos Estados Unidos, dirigindo "Um Estranho no Ninho" e "Amadeus") e Vojtech Jasny ("O Gato de Cassandra") e marcado por elementos de humor negro.