"Faroeste Caboclo" chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
24/05/2013 às 08:02.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:58

É inevitável a comparação com "Django Livre", filme de Quentin Tarantino indicado ao Oscar desse ano. O diretor de "Faroeste Caboclo" sabe disso: "Há sim pontos de toque entre os dois trabalhos, como o herói negro discriminado em busca de seu amor", reconhece René Sampaio, em entrevista ao Hoje em Dia.

Como deixa claro o título, o filme brasileiro – inspirado na quilométrica letra da canção homônima composta por Renato Russo na década de 80 – revisita o gênero bangue-bangue valendo-se "de suas convenções para criar novas roupagens", nas palavras de Sampaio, bem como o longa de Tarantino.

A homenagem mais evidente é dirigida ao western espaguete, produzido na Itália nos anos 60 e 70. "Na cena de duelo, quando há um close do olho dos três personagens e depois um plano geral deles, é uma referência clara a Sergio Leone. Mas não quer dizer que pesquisei para fazer igual. Tem a ver com as minhas referências internas".

Caboclo

O revólver no coldre e o espírito de vingança, porém, estão adaptados à realidade brasileira. "É caboclo. A terra sem lei do Velho Oeste é trocada por uma cidade (Brasília) ainda em construção. Assim como a música, que quer falar pro presidente pra ajudar toda essa gente que só sabe sofrer, o filme tem um discurso político, mas não panfletário".

Ainda em relação à música, Sampaio promoveu alterações narrativas para deixar "a história no cinema de pé". Maria Lúcia, vivida pela atriz mineira Ísis Valverde, e o antagonista Jeremias (Felipe Abib) entram em cena desde o início. Outras mudanças aconteceram em nome da "humanização dos personagens".

Sampaio explica que, "por conta da necessidade da música, que tem que contar tudo rapidamente, os personagens se tornam unidimensionais". Santo Cristo (Fabrício Boliveira) deixa de roubar e Jeremias não desvirgina mocinhas inocentes. "É uma questão de abordagem, mas ela não difere da leitura pessoal que eu fazia da música".

Segundo diretor, filme oferece vários tons de cinza

O estilo de cordel adotado por Renato Russo na música favorece a um tom mais fantástico. Já o filme segue caminho contrário, em direção ao realismo. "Na canção, o tipo de narrativa flerta com o cordel, em que não há meio-tom. No filme, adotamos vários tons de cinza", compara Sampaio.

Outra diferença em relação à música da Legião Urbana (presente no disco "Que País é Este?", de 1987) é a própria banda é usada para contextualizar a época em que a trama se passa. Logo no início ouvimos "Tédio (Com um T Bem Grande)", quando Russo ainda liderava o Aborto Elétrico.

"Junto com ‘Proteção’, da Plebe Rude, a canção ajuda a colocar o espectador nesse ambiente dos jovens filhos de políticos e professores que estavam se rebelando. É assim que passamos a entender Maria Lúcia. Se fosse hoje, ela estaria escutando provavelmente rock indie", registra o cineasta.

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