Festa da Francofonia reúne música, cinema, gastronomia, lazer e educação

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
24/03/2015 às 08:52.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:21
 (JACQUES DEMARTHON/AFP)

(JACQUES DEMARTHON/AFP)

Um certo ar (ou “air”) da França paira sobre a capital mineira desde o último dia 19, quando teve início a “Festa da Francofonia”, evento que se encerra no próximo dia 28, com o objetivo de reforçar a proximidade entre Minas Gerais e os países de língua francesa. Entre os chamarizes está, por exemplo, a mostra de filmes “Sotaques da Francofonia”, em curso no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade). Embora alguns eventos já tenham se encerrado (como o “Piquenique/Pétanque”), ainda há cerejas do bolo à espera dos admiradores desta cultura tão ímpar quanto charmosa. Entre elas, o show da cantora Zaz (dia 28, no Music Hall) e a “Noite Dançante da Música Francófona” (quinta, dia 26, no Paco Pigalle Bar).

Zaz, 34 anos, você se lembra, passou pela cidade ano passado – e os ingressos esgotaram-se rapidamente. Agora, a moça retorna a bordo de um novo repertório, o de seu terceiro disco de carreira, “Paris”: uma homenagem à cidade-luz que traz duos com Charles Aznavour, Thomas Dutronc e Nikki Yanofsky, e, ainda, a colaboração do lendário produtor Quincy Jones.

Mas, bien sûr, a música “Je Veux”, que foi bastante executada, estará, sim, na set list. “Cantar em um país estrangeiro, principalmente em continente tão fantástico quanto a América do Sul, foi uma experiência única – e formidável”, diz Zaz, ao Hoje em Dia, reportando-se à apresentação de 2014. “Os brasileiros não são apenas apreciadores do futebol, têm uma relação admirável com a música, e o ritmo é o grande trunfo de vocês”, diz ela. Apesar de frisar não ser profunda conhecedora da música brasileira, a bela afirma: “J’adore la bossa nova”. E todos hão de convir que é desnecessário traduzir o que Zaz quer dizer.

Sobre o disco novo, Zaz diz ser uma honra o fato de artistas deste calibre terem dito “oui” ao convite de trabalhar com ela.

A lenda Charles Aznavour, por exemplo, ela conheceu em um programa televisivo. “Cantei com ele e me pareceu natural chamá-lo para o álbum, queria registrar aquele momento. São, todos dois, pessoas acessíveis. Imagine que nós dividimos, os três, o estúdio, junto aos músicos, e a impressão era que tínhamos 20 anos”, diz ela, abarcando também, em sua fala, Quincy Jones.

E o que a levou a homenagear Paris em disco? “Bem, a ideia surgiu a partir dos pedidos recorrentes, do meu público, para que eu cantasse clássicos do cancioneiro francês. Alguns – não todos, claro – já conhecia”. No geral, ela quis deixar sua marca, “mas, evidentemente, sem quebrar a alma (das músicas)”, diz Isabelle Geffroy, o nome de batismo de Zaz.

Zaz – Show sábado, 28, às 20h30, no Music Hall (av. do Contorno, 3.239, Santa Efigênia). Ingressos: Valores: R$ 110 e R$ 55 (meia)


A diversidade das culturas francófonas desperta interesse

À frente da Aliança Francesa Belo Horizonte desde outubro do ano passado, o parisiense Pierre Alfarroba, 35 anos, frisa o sentido do evento que invadiu a cidade. “A ideia não é difundir só a língua francesa, mas a diversidade das culturas francófonas”, diz, referindo-se aos habitantes de países ou cidades de outros continentes, além da Europa, que têm o francês como língua oficial – caso do Marrocos, Senegal, Benim, Costa do Marfim, Guadalupe e Martinica e algumas pontos do Canadá, como Quebec, entre (muitos) outros.

Motivo pelo qual Pierre comemora a participação, por exemplo, da Casa África, no evento em curso. No último domingo, o Baobar Gastronomia sediou o “Delícias da Francofonia”, que teve um menu degustação todo especial. O continente africano é uma fonte inesgotável de delícias culinárias, além de rico em outras manifestações culturais. Pierre ressalta o fato de uma das atrações musicais que já se apresentaram na programação, Stéphane San Juan, ter, por exemplo, morado no Mali, mostrando a ligação entre países francófonos.

Instado a falar particularmente sobre o interesse dos mineiros pela cultura francesa, Pierre diz que a Aliança tem registrado uma progressão indiscutível no número de matrículas. Mas o mais importante, atesta, é que o interesse não se calça na admiração a ícones como a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, mas à cultura como um todo. “Em quase todos os eventos, temos sala cheia, estamos orgulhosos”, diz,

Ele reconhece que, sim, há uma toda uma aura de charme associada à França, que abrange do sotaque à história do país, passando pela arte e outras esferas. Mas não só. “Os mineiros estão interessados em colocar os olhos sobre o que está acontecendo hoje, e nossos professores, abertos à diversidade cultural, propõem conteúdos originais dentro do espaço francófono”, constata.


Minas, um estado aberto ao intercâmbio cultural, diz Pigalle

Figura conhecidíssima (e querida) por estas plagas, o marroquino Paco Pigalle se tornou referência na noite belo-horizontina– atualmente, a casa que leva seu nome atrai, a cada final de semana, uma leva de pessoas (interessadas em travar contato com a música de vários países) ao endereço da avenida do Contorno, 2.314, na Floresta. É lá que ele aplicará, nesta quinta-feira, a partir das 21h, a “Noite Dançante da Música Francófona”.

O diferencial? Bem, quem conhece Pigalle sabe que ele adora. “Acredito que a música e o paladar sejam o jeito mais fácil de interagir com outras cultura, pois, nesse caso, você se norteia pela emoção, não precisa necessariamente conhecer a língua. De uma maneira geral, o mineiro está interessado cada dia mais não só no francês, mas na música feita mundo afora. O que percebo, em relação à cultura francesa, é que está recebendo um olhar mais maduro, mais de culto, mas não de uma admiração automática, e sim mais crítica, criteriosa”, advoga.

Paco também dá ênfase ao que considera outra peculiaridade. “Aqui, em Minas, as revoluções culturais acontecem mais rápido. Quando faço o Festival Nômade, no Parque Municipal, sinto muito orgulho em ver cinco, seis mil pessoas, muito atentas. Não é um povo oba oba, eufórico, não sei se pelo fato de estar afastado, entre as montanhas, o fazer, por assim dizer, menos poluído, obstruído. Aberto às culturas de fora”. 

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