Festival de documentários exibe seleção que trata das lutas pela terra e pela moradia

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
16/11/2020 às 22:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:04
 (LUÍS ABRAMO/DIVULGAÇÃO)

(LUÍS ABRAMO/DIVULGAÇÃO)

Ao focar as lutas populares pela terra e pela moradia como um dos temas centrais da 24ª edição, o Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (forumdoc.bh) não quer apenas registrar a memória destes conflitos fundiários, urbanos e rurais em filmes de diferentes países e épocas.

“São produções que flagram o testemunho ao vivo, em ato, destas lutas. Vemos movimentos em plena emergência e articulação”, assinala Ewerton Belico, um dos curadores de “Esta Terra é a Nossa Terra”, mostra que apresentará, a partir desta quinta, uma programação com 23 obras, em formato on-line.

De acordo com Belico, os filmes tornam possível a percepção do intercâmbio e da articulação do pensamento e da estratégia de mobilização, com boa partes deles mostrando a luta de oposição a grandes obras, no Brasil e no exterior. Neste campo, um dos destaques é o japonês “Narita: os Camponeses da Segunda Fortaleza” (1971).

“Ele é dirigido por Shinsuke Ogawa, um documentarista político muito importante que realizou uma série de filmes registrando as mobilizações de luta contra a obra de construção do aeroporto de Narita, que implicava na remoção de camponeses. Luta articulada por movimentos campesinos e estudantis”, afirma Belico.

Outros títulos imperdíveis dentro do tema são “Everyday life in a Syrian Village (1974), do sírio Omar Amiralay, que mostra os impactos sociais da construção da represa de Tabca; “A Narmada Diary” (1995), do indiano Anand Patwardhan, que enfoca a luta contra as barragens em Narmada. 

O Movimentos dos Sem-Terra (MST) não poderia ficar de fora. Um dos filmes é de Berenice Mendes, intitulado “A Classe Roceira” (1985), que flagra os primórdios do movimento. O outro é “Sequizágua” (2020), de Maurício Rezende, que acompanha um assentamento rural no norte de Minas, exibido na Mostra de Tiradentes.

Belico observa que há, no Brasil, uma história importante de movimentos de luta urbana, com o cinema sempre acompanhando-os de perto. “Não é uma história que começa agora. Ela diz respeito a mais de uma geração de realizadores. Um fenômeno mais recente é a emergência de coletivos audiovisuais dentro das ocupações”.

Um exemplo é o coletivo Ocupe Estelita, em Recife, fruto da mobilização diante de um empreendimento imobiliário na região do cais José Estelita, no centro da capital pernambucana. A luta começou em 2012 e dela surgiram vários trabalhos, como “Cabeça de Prédio”.

Ao todo, o forumdoc.bh exibirá 71 produções, com acesso amplo e gratuito pelo site do festival, ficando disponíveis até 28 de novembro, último dia de programação. Haverá ainda debates, seminário e master class com a realizadora portuguesa Joana Pimenta. As atividades formativas exigem inscrição prévia.

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