‘Filme de Rua’ inaugura espaço cultural em BH

Lucas Buzatti
11/03/2019 às 18:08.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:44
 (Bruno Figueiredo/Divulgação)

(Bruno Figueiredo/Divulgação)

“A possibilidade de criar afeta muito a vida das pessoas. Se dispor a passar por um processo criativo muitas vezes gera a oportunidade de sair de um lugar programado pela sociedade, de estar sempre à margem, invisível, mal tratado”. A reflexão é de Joanna Ladeira, uma das coordenadoras do projeto Filme de Rua. Criada em 2015, em Belo Horizonte, a iniciativa propõe o intercâmbio entre a prática do audiovisual e a produção artística de jovens que vivem ou já viveram em situação de rua.

Nesta terça-feira (12), o projeto avança para uma nova etapa. Com apoio do programa Rumos Itaú Cultural, será inaugurado o Espaço Cultural Filme de Rua, que funcionará no andar térreo do edifício SulAmérica, na Avenida Afonso Pena. A partir de sexta-feira (15), o espaço começará a receber sessões de cinema abertas ao público, buscando valorizar a produção cinematográfica não comercial e independente de BH e de outras cidades do Brasil e do exterior. O local também reunirá uma produtora, oficinas de audiovisual, grupos de trabalho e discussão na área do cinema, além de encontros e intercâmbios.

Joanna Ladeira conta que o projeto, que reúne jovens entre 17 e 29 anos, surgiu a partir da produção do curta-metragem “Filme de Rua” (2016). O filme foi vencedor do 19o Festival Internacional de Curtas-Metragens de Belo Horizonte, e selecionado para os festivais como o VII Cachoeira Doc (Cachoeira-BA). “É um projeto que se apoia em um tripé: ver filmes, pensar filmes e fazer filmes”, explica a coordenadora, ressaltando que estão sendo feitos três novos filmes.

Para Ladeira, o fato de conquistar um espaço próprio permite ao Filme de Rua uma promoção maior de trocas e articulações entre realizadores periféricos de diferentes lugares. “Queremos dar lugar para esses realizadores, ampliar as possibilidades de produção, exibir filmes que ficaram engavetados. Março será o momento inicial desta inauguração, queremos escutar a cidade”, afirma.

Além de 15 jovens integrantes bolsistas do Rumos, o coletivo conta com seis coordenadores, entre profissionais e militantes das áreas do cinema, artes plásticas, psicanálise, comunicação e história. Uma delas é Zi Reis, poetisa, artista visual e produtora de Contagem. “Durante muito tempo, muito foi dito sobre nós no universo do audiovisual, seja no documentário, no cinema experimental, na antropologia. Agora, é como se estivéssemos dizendo: ‘espera aí, agora nós também vamos falar’”, afirma. “Então, dizemos da nossa forma e quebramos paradigmas. Uma hora estou dirigindo, noutra atuando; uma hora é a realidade minha vida, em outra eu ficcionalizo”, diz.

Reis lembra que o fazer cinema muitas vezes envolve uma tecnologia nem sempre acessível, mesmo com a popularização dos meios de produção. “A própria estrutura cinema cinematográfica nos possibilita encontrar outros ‘fazeres’. Por exmeplo, percebemos que é possível fazer um filme louco a partir de uma câmera de celular ou de computador. Nós, enquanto artistas jovens e periféricos, estamos revolucionando as formas e possibilidades de dizer”.

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