Filme 'Eu Sou Brasileiro' mostra jovem que tenta retomar seus sonhos com o futebol

Paulo Henrique Silva
12/08/2019 às 19:35.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:58
 (ELO COMPANY/DIVULGAÇÃO)

(ELO COMPANY/DIVULGAÇÃO)

 Em época de arraigadas discussões ideológicas sobre o papel do Estado na sociedade, “Eu Sou Brasileiro” exibe uma abordagem, no mínimo, curiosa. Estreia desta quinta-feira nos cinemas, o filme fala sobre a busca de sonhos e a chamada “segunda chance”, temas caros ao cinema americano. A narrativa começa com imagens da bandeira brasileira, destacando o “progresso” do lema e as cores verde e amarela. Em seguida, vemos a mãe do protagonista, um jogador de futebol do interior à espera de um lugar ao Sol entre os grandes times, costurando as bandeiras. Nunca saberemos a razão. Assim, sem grandes explicações dramatúrgicas para ela trabalhar tanto (situação várias vezes reafirmada pelo filho) nesta tarefa, não resta outra possibilidade que não o viés metafórico. E ao acompanhar o desenrolar da trama é possível traçar uma ligação entre a mãe protetora e o Estado. Na medida em que nunca se questiona a falta de intervenção das esferas púbicas – não há qualquer tipo de representante governamental – às injustiças sociais, como se o preconceito e o desequilíbrio de classes fossem nossa responsabilidade, sobra um ideal muitas vezes edulcorado de que só dependemos de nós mesmos para vencer. Com este viés de auto-ajuda, o filme de Anselmo Barros defende, de certa maneira, a autonomia da sociedade civil e também do terceiro setor, ao vermos a fundação do ex-jogador Cafu, duas vezes campeão da Copa do Mundo, servir como estímulo à reviravolta de Léo, o protagonista vivido por Daniel Rocha. A instituição onde ele comanda uma escolinha de futebol é outro bom exemplo de gestão e ideário progressista. Além de conceder uma bolsa para o filho de Léo, ao enxergar nele grande potencial, oferece ainda ferramentas para o ex-jogador reencontrar o seu caminho, como atendimento psicológico. A falta de zonas cinzas na história, em que fica claro o desejo de usar o personagem como peça de uma ideia maior, não deixando-o criar vida própria, contamina até mesmo a fotografia e a direção de arte, ambas muito “limpas”, especialmente na maneira como apresenta Indaiatuba, cenário paulista do filme.  A ausência de intensidade prejudica algumas cenas-chave, principalmente na segunda metade, em que as mudanças processadas pelo personagem se tornam demais explicativas, verbalizando tudo o que está sentindo.

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