Filme ‘Livre’ retrata uma escolha que tem sido recorrente nos dias atuais

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
11/01/2015 às 10:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:38
 (Arquivo Pessoal/Manu Franco Melo)

(Arquivo Pessoal/Manu Franco Melo)

Como forma de botar uma pedra em cima de seu passado – marcado por drogas, traições e autodestruição – Cheryl deixa tudo para trás para viver uma aventura de 1,8 mil quilômetros (em três meses) pela costa do Oceano Pacífico, nos Estados Unidos. Retratados no filme “Livre”, que entra em cartaz dia 15, os perigos e os desafios enfrentados em meio à natureza selvagem servem como uma espécie de renovação espiritual para a personagem vivida por Reese Whiterspoon.

Assista do trailer do filme:

 

Apesar de as razões serem muito distintas, a troca da “cidade grande” pelo mato, afastando-se de vários “ismos” (o consumismo, principalmente), é mais comum do que se imagina. “Um dia, conclui que estava com a conta cheia de dinheiro, mas que não tinha aproveitado a vida como queria”, observa Fabiana Almeida, que abandonou o trabalho com produção de arte para praticar reiki e leitura de aura numa ecovila próxima a Itacaré, no litoral da Bahia. As ecovilas, por sinal, se tornaram o refúgio ideal de muitas pessoas que, como Fabiana, buscam uma vida simples e calma, longe da agitação das cidades. Manu Franco Melo também seguiu esse caminho depois que o seu primeiro filho, Tomé, hoje com três anos e meio, nasceu. “Ele foi o nosso grande impulso. Queríamos (ela e o marido Hugo) oferecer a ele uma infância bonita, entendendo e respeitando a natureza, com valores fortes e verdadeiros, sem as mazelas da cidade grande”.   O primeiro destino de Manu, que trabalhava como produtora de festivais, feiras e exposições de fotografias em São Paulo, foi a mineira Lagoa Santa. “Tomé nasceu lá, onde ficamos até ele completar dois anos. Mas ainda queríamos mais sossego e decidimos ir para o mato mesmo. Vendemos e doamos tudo o que tínhamos”, recorda a fotógrafa, que, na época, estava grávida de sete meses de Nina (atualmente com um ano e dois meses). A família seguiu para a Chapada Diamantina, onde permaneceu um ano, e agora está morando numa ecovila em Goiás, “dando continuidade à infância que acreditamos ser mais rica para eles (os filhos)”. No Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC), a quatro quilômetros de Pirinópolis, só há um telefone comunitário, que fica na portaria da ecovila. Manu e Hugo trabalham com horta orgânica, experiência semelhante vivenciada por Fabiana na Bahia.   ‘Aprendemos a praticar o desapego; e nos libertamos de tabus e regras’, diz Manu   Na comunidade espiritualista de Piracanga, Fabiana participa da cozinha vegetariana e leva uma vida sustentável, produzindo seus xampus, sabonetes e desinfetantes. “E nos curamos de doenças com as plantas, alimentos orgânicos em sua maioria. Faço o meu tempo e dedico o meu amor e atenção ao que realmente me importa”, sublinha Fabiana, hoje em viagem pelo Peru, dando continuidade às suas pesquisas sobre plantas.    Levando uma vida como a de seus avós, sem TV, shoppings e automóveis, ela se diz feliz. Seu dia a dia envolve uma caminhava por uma trilha muito verde, em direção ao trabalho, e tem tempo de sobra para meditar, ler, nadar, caminhar, plantar e ver o sol se pôr no mar. “Como toda mudança, há um pouco de medo e excitação. Sinto saudade dos amigos, dos almoços de domingo com a família, mas não me arrependo nem um segundo”.   Manu também não tem do que se queixar. Embora admita sentir falta de algumas coisas da cidade, ela assinala que o melhor caminho para uma transição tranquila é reinventar as necessidades. “Aprendemos a praticar o desapego. Nos libertamos de tabus, regras e imposições sociais”, explica.   Ela não recomenda essa escolha a qualquer um, mas propõe uma reflexão. “Sinto que as pessoas se acomodam com a vida que nos foi ensinada desde pequenos e não se permitem uma tentativa de melhorar. Talvez sejamos uma das tantas provas de que outra rotina mais leve e feliz é possível. Por isso gostamos de compartilhar nossas escolhas, para encorajar pessoas. Quem sabe, assim, esse mundo não fica mais bonito?”.   Se for uma escolha de coração, não há como dar errado, receita Fabiana, que sempre gostou do cheiro de terra molhada e de ouvir o canto dos pássaros. “Há um ano, lembrei da época em que subia nas árvores e decidi que queria ouvir meu coração. Foi uma mudança para uma vida consciente, tranquila e verdadeira, com escolhas que respeitam a natureza e o meu ser”.   Semelhanças com ‘Na Natureza Selvagem’ e ‘127 Horas’   O longa-metragem “Livre” poderia ser comparado a uma espécie de “versão de saias” do filme norte-americano “Na Natureza Selvagem”, de Sean Penn, lançado em 2007 e que é norteado por um tema semelhante. A produção (baseada em fatos reais) gira em torno de um jovem – Christopher McCandless (Emile Hirsch – que se embrenha no mato para criar um ponto de virada em sua vida, logo transformada num símbolo de resistência ao materialismo do cotidiano.   Assista ao trailer de 'Na Natureza Selvagem':  

Mas os propósitos de “Livre”, de Jean-Marc Vallé não têm o mesmo teor intrigante e metafísico que nos faz questionar o tempo inteiro o que leva uma pessoa sadia e estável a abandonar tudo para simplesmente buscar a comunhão com a natureza, num local inóspito e que custaria a sua vida, como resposta a seu vazio interior.

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