(Júnior Aragão/divulgação)
BRASÍLIA – Em cada fotograma de “Martírio”, filme exibido na noite de quinta-feira no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, reforça-se a afirmação do diretor Vincent Carelli sobre os índios guarani kaiowá, personagens do documentário, residentes no Mato Grosso do Sul: “São os mais resistentes que conheço”.
O filme registra três décadas de ataques realizados por fazendeiros, apoiados por uma bancada ruralista no Congresso cada vez mais forte. “Com outros povos indígenas, à medida que há o decréscimo populacional, eles vão perdendo seus rituais e sua história. Com os kaiowá não. São 500 anos preservando a língua, a religião e tradição”.
O documentário provocou forte impacto na plateia do Cine Brasília, principalmente quando expunha o pensamento dos fazendeiros e seus defensores no Congresso, em especial num encontro em que rechaçavam o fortalecimento, no governo de Dilma, de grupos como negros, gays, lésbicas e índios.
“Encontrar essas imagens não foi difícil. Está tudo no youtube, como a cena do parlamentar que diz que os índios só avançariam se passassem por cima de seu cadáver. No Congresso, eles me cederam gentilmente o material (das CPIs). Mas da senadora Katia Abreu não pedi autorização. São pessoas públicas em função pública”, assinala.
Carelli, que ganhou o Festival de Gramado com “Corumbiara”, também sobre a questão indígena, em 2009, enxerga um embate poderoso entre índios resistentes e a “classe mais retrógada do país”, que continua patrocinando ataques a vários locais que, originalmente, pertenciam aos ancestrais indígenas.
Ele explica que “Martírio” é a segunda parte de uma trilogia formada por “Corumbiara” e que se encerrará com uma série para a internet. “O primeiro é sobre genocídio de povos isolados. O segundo é um genocídio contemporâneo. E o terceiro sobre um problema muito atual, de indenizações pagas aos índios e que provocou uma perturbação grande entre eles”.
(*) Viajou a convite da organização do Festival de Brasília