O que está por vir – num sentido amplo – aparenta ser pior do que é hoje, como sinalizam as manifestações estudantis que ocupam o início do filme francês intitulado exatamente “O que Está por Vir”, em cartaz no Belas Artes.
A discussões sobre as mudanças na aposentadoria e as questões existenciais que permeiam as conversas da protagonista, a professora de filosofia Nathalie (Isabelle Huppert), se apresentam em descompasso com as ações dos personagens.
Enquanto ouvimos sobre o que é verdade nas instâncias religiosa e política, no campo privado, em especial o de Nathalie, esse debate cumpre outro ritual, o de estagnação, com a vida obedecendo seu ciclo, do nascimento à morte.
É curioso observar que a narrativa de “O que Está por Vir” se desenvolve com a decadência mental da mãe da professora e se encerra com a celebração da chegada do neto, apesar do choro da filha (Por que? Isso não fica claro, mas é possível supor).
O que a diretora Mia Hansen-Løve põe em questão é esse distanciamento das cabeças pensantes da realidade, contentando-se em reproduzir velhos discursos e acomodando-se em sua vida burguesa, com as benesses de um trabalho concentrado na academia.
A condução de Mia leva o espectador a se incomodar com a postura de Nathalie e com o próprio filme, à espera de uma reviravolta, mas não é o que a diretora se propõe. Filmes também são uma espécie de discurso reconfortante e cabe a nós tentar mudar algo.