Filme “Piadeiros” direciona holofotes sobre gente como o mineiro Araújo

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
25/11/2015 às 07:16.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:04
 (Eugenio Moraes)

(Eugenio Moraes)

Um metro e oitenta de altura, 120 quilos e careca. “Quem não me conhece, irá, lógico, ter medo de mim. Por isso gosto de brincar com o cliente. Aí, ele se solta”, registra Wallison Araújo. Ou simplesmente Araújo, como é conhecido o maior piadista do Mercado Central. Aliás, foi a partir dessa referência que o diretor Gustavo Rosa de Moura chegou a um dos personagens de “Piadeiros”, filme em cartaz nos cinemas, e que retrata piadistas anônimos – gente que é naturalmente engraçada e que não se vale dessa inclinação para fazer rir para ganhar dinheiro.

Na verdade, indiretamente, Araújo acaba trocando uma anedota pela fidelidade de um cliente. E sim, ele pode até começar de forma séria uma entrevista – mas logo emenda uma piada atrás da outra, dentro de um universo que, segundo ele, foi inspirado no dia a dia.
 
“A vida é engraçada. É como o político que, no palanque, diz que nesse bolso não entrou dinheiro de corrupção e alguém da plateia pergunta se ele está de calça nova”, diverte-se Araújo, que, na verdade, é um especialista em cachaça. E também em causos sobre a “água que passarinho não bebe”.

“Já dizia a minha falecida mãe, Deus protege criança e bêbado. E é verdade! Ninguém vê no jornal a manchete ‘Homem embriagado atravessa rua e é atropelado’. Todo mundo tem misericórdia. Bêbado bebe para esquecer. É por isso que tem muito dono de bar cobrando antes”, brinca.

O dom para piada foi lapidado antes de virar dono de loja, quando era representante da indústria farmacêutica. “Sabe aquele cara com uma maleta cheia de propaganda de remédios? Ficava na recepção esperando e contava (piadas) para todo mundo, dos pacientes ao médico”.

Araújo põe na conta do humor uma razão para se viver. “A vida é uma batalha constante. Sorrir nos ajuda a conviver com as pessoas. Abrir os dentes é o nosso maior patrimônio. Sorrindo, você atrai outras pessoas. O problema é que hoje estamos cada vez mais cyber isolados, preferindo ficar em casa”.

Minas Gerais protagoniza os melhores momentos do filme

O próprio Gustavo Rosa admite: seu plano foi bem arriscado. Ir de cidade em cidade, sem saber o que encontrar, poderia render, no lugar de muitos risos, alguma dose de frustração. “O projeto já implicava que, entre outras possibilidades, também podia dar errado”, explica o diretor de “Piadeiros”, que se deparou, muitas vezes, com casas vazias – ou com o desinteresse de piadistas.

Não foi propriamente o caso de Minas Gerais, onde encontrou rico material humano. Ele confessa que a edição deixou de fora muitos momentos engraçados de Araújo.

“Mas não podia me concentrar só nele. Em nosso projeto, tínhamos que percorrer as várias regiões do Brasil”, justifica Gustavo, que foi de Norte a Sul do país em busca de piadeiros.

Apesar de ocorrer por acaso, o encontro com Araújo obedeceu a uma dica que valeu para várias localidades: “O melhor lugar para buscar indicação é o mercado público. Lá, todo mundo se conhece”. Araújo, a princípio, se mostrou reticente, preferindo indicar uma outra pessoa no Mercado Central. “Mas, no caminho, já foi contando um monte de piada”, lembra Gustavo.

Quando chegaram à loja do “melhor piadista”, na avaliação de Araújo, o diretor teve a certeza que essa condição pertencia ao seu “guia”, que, não parava de tirar sarro do responsável pelo áudio.

“Como o Chico (fotógrafo) queria comprar uma cachaça, criamos uma situação e foi ótimo”, ressalta Gustavo, que define o filme como um “road movie da piada”, tendo ele como o principal condutor. Acabou virando especialista no tema, concluindo que a piada, muitas vezes, é a mesma em vários lugares, só mudando os personagens. “Tem uma ideia central, que vai modificando de acordo com a região”.

‘Agora quero ganhar dinheiro com meus casos’, avisa Bróder

“Se quiser escrever aí, pode botar que um novo humorista está despontando”, avisa Delson Ribeiro de Andrade, outro cativante personagem mineiro do documentário “Piadeiros”.

Foi o filme, por sinal, que animou o “Bróder”, como todos no bairro Padre Eustáquio o conhecem, a buscar a profissionalização na arte de fazer rir, criando seu próprio show. “Agora quero ganhar (dinheiro) com meus casos, com o stand up comedy”, avisa.

O grande objetivo, ele não esconde: “Quero ir para a TV, aparecendo num programa como o ‘A Praça é Nossa’”, registra Bróder, que faz o estilo “sem script”, contando o que lhe vem à cabeça.

O piadeiro já fazia graça quando ainda era criança, chamado para animar festas de aniversário. “Não tem curso para isso. Ou você sabe ou não sabe”, afirma o humorista, que estava numa reunião de consórcio quando recebeu o telefonema do diretor.

“Estava justamente contando umas piadas. Imediatamente, o Gustavo foi para lá, com toda a equipe para me filmar. No início, pensei que era alguma pegadinha, mas logo vi que era coisa séria”, recorda.

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