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O foco de “No Intenso Agora”, em cartaz nos cinemas, são os movimentos de maio de 1968. Mas desde que o documentário de João Moreira Salles bateu na tela, no Festival de Berlim, a comparação com o atual se tornou, como ele mesmo diz, incontornável. A reportagem do Hoje em Dia foi mais uma a repetir o coro: estaria o filme fazendo uma relação com as manifestações de 2013 no Brasil?
“Para mim, ficou muito claro o que não estava claro antes. Por circunstâncias puramente fortuitas, nada a ver com um lado visionário, o mundo se aproximou do filme”, registra o realizador. Ele começou a trabalhar sobre o projeto em 2011, depois de descobrir imagens caseiras de sua mãe, durante viagem a China, pouco antes da ebulição política e comportamental francesa.
Sua mãe, que mais tarde se suicidaria em seu retorno ao Brasil, estava feliz na terra de Mao Tsé-Tung. O filme parece perguntar se a razão de um sentimento tão intenso estaria nos ventos contestatórios daquele ano. É a partir dessa investigação sobre a felicidade materna que o filme mergulha em 1968.
“Quando comecei, estava surgindo a Primavera Árabe (onda de protestos nos países árabes). E quando veio 2013, eu já estava na sala de edição, há um ano pensando nele. As pessoas que viveram 2013 e veem o filme têm uma reação muito visceral, achando que ele reflete as experiências delas. Eu não poderia prever o que ia acontecer. O fato é que a sensação descrita em 1968 se repetiu em 2013”, analisa Salles.
Máquina do mundo
O arco é muito parecido, a partir da ideia de uma “supressão do espaço e do tempo, além da supressão do ego, devido à transformação do indivíduo numa multidão”. Para o cineasta, “havia (em maio de 1968) uma força imensa, como tudo estivesse sendo feito ali, com a marcha do tempo conduzindo”. Assim como em 2013, veio o tombo, com “a máquina do mundo se fechando”, salienta Salles, parafraseando uma poesia de Carlos Drummond de Andrade.
O que se produziu, porém, não foi em vão. O diretor destaca que o legado de maio de 68 foi importante para a sociedade francesa, que se tornou mais progressista, se abrindo às questões da sexualidade, da mulher e dos direitos dos negros. “No Brasil de 2013, a percepção dos ganhos ainda não está clara. Mas eles existem, com a gente podendo falar dos movimentos de periferia, dos negros, do novo feminismo”, avalia.