Fones em alta

Thais Oliveira - Hoje em Dia
15/08/2015 às 08:33.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:21
 (Flávio Tavares / Hoje em Dia)

(Flávio Tavares / Hoje em Dia)

Seja para malhar ou durante uma viagem, fato é que existe quem escute música o dia inteiro. E, se antes as canções estavam apenas ao alcance dos rádios portáteis, com a proliferação dos smartphones, elas criaram “pernas” ainda mais curtas e podem ser transmitidas por fios finíssimos ou até sem fio algum. Dependendo do modelo escolhido, os fones de ouvido são tão discretos que podem passar desapercebidos até mesmo no ambiente de trabalho. E é aí que mora a polêmica. Este comportamento atrapalha o desempenho no serviço? A maioria dos adeptos garante que não e jura que até ajuda na concentração. Será mesmo?

Para o refrigério desta galera musical, uma pesquisa da consultoria britânica MindLab International aponta benefícios no uso do fone. Um exemplo é que, os ouvintes de músicas clássicas obtiveram resultados mais satisfatórios em relação a ouvintes de outros gêneros, pois 73% deles melhoraram a precisão das tarefas e foram mais eficazes para resolver problemas matemáticos.

Clássicas e Led Zeppelin

Ponto para o publicitário André Luiz Santana Fernandes, 27. Ele conta que há cerca de dez anos leva os seus fones para o trabalho. Na playlist, os clássicos lideram. “Para me concentrar, costumo ouvir música clássica e Led Zeppelin. As minhas preferidas deixo para escutar no carro. Quando ouço uma que não sei a letra, me ajuda a me concentrar mais, porque não presto atenção no que está dizendo”, explica.

Segundo o publicitário, o artifício só é usado n o ofício quando o barulho exterior chega a atrapalhar o desenvolvimento das atividades. “Na agência, não há paredes nos setores, para facilitar a comunicação e a interação. Mas, às vezes, tem conversas paralelas e, então, quando preciso me concentrar, uso os fones”, esclarece.

Contra o ruído externo

O colega de trabalho de Fernandes, o gerente de Contas Lucas Alves, 27, também recorre aos fones. Segundo ele, por se tratar de uma agência de publicidade, o fluxo de informações é alto, o que pode favorecer a dispersão em determinadas ocasiões. “Acho que é uma questão pessoal, podendo funcionar para alguns e para outros não. Acredito que, para algumas pessoas, o recurso é uma espécie de blindagem contra o ruído externo”, diz Alves.

O que diz o chefe...

Por ser um ambiente que privilegia a criatividade, na Solution, a empresa onde trabalham, não é proibido ouvir música durante o expediente. “Este é um assunto polêmico e fruto de discussão nas empresas. Também temos comentado sobre isto na agência. Mas se isto faz bem, respeito o gosto da pessoa. Em quase 20 anos de mercado, nunca tivemos problemas”, afirma o presidente da agência, Fernando Campos.

‘Os sons alteram toda a nossa noção de tempo e espaço’

Há mais de dez anos, o motorista J. (que, aqui, tem sua identidade preservada), percorre ruas de vários bairros de Belo Horizonte no comando de um dos ônibus da empresa para a qual trabalha. E já há algum tempo, J, habilidoso que é ao volante, acostumou-se a conciliar seu ofício com a audição de suas músicas favoritas, por meio dos fones de ouvido. E não vê problemas. “Não acho que prejudique (a direção)”, diz ele.

Segundo o motorista, o hábito foi adquirido há cerca de oito anos e o sertanejo é o seu gênero predileto. “Acho mais tranquilo dirigir ouvindo música, porque o trânsito é agitado, é estressante e não tem rádio para passar o tempo aqui. Mas costumo usar só quando está mais cansativo o dia, mais para o fim do expediente, porque isto me acalma”, tenta se explicar.

Perigo

A terapeuta ocupacional, Karla de Oliveira diz que, em algumas áreas, o impacto de escutar música é tênue, como para a prática de exercícios nas academias e em trabalhos que envolvam artes, por exemplo. “Música é fonte de prazer. É quase impossível encontrar alguém que não goste de pelo menos um estilo. Sendo assim, é importante destacar que música no trabalho é bem vinda desde que não afete o desempenho ou a interação social”.

Porém, Karla adverte que há casos que devem ser observados. “Dependendo de um posto de trabalho que exija mais concentração, os sons alteram toda a nossa noção de tempo e espaço. Isto prejudicando a concentração. Por isto, fico preocupada quando avisto um motorista de ônibus usando fones de ouvido”, afirma.

Agora sem fone

Dois dias após explicar os motivos pelos quais deve-se evitar dirigir escutando música com fones, a reportagem voltou a encontrar-se com J. “Está vendo só? Estou sem fones hoje. Não uso mais”, garante.

Em nota, a BHTrans informou que é proibido o “uso de aparelho sonoro durante a viagem ou no interior de estações, seja para o motorista e o agente de bordo”.

Segundo a empresa, nestes casos, a concessionária está sujeita a multa, no valor de R$ 219,96. “O motorista também pode ser autuado pelo Código Brasileiro de Trânsito no artigo 252 (infração por dirigir utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular”, diz a nota.

Saúde preocupa

Colega de trabalho de J, o cobrador M, 20 anos (que aqui também tem sua identidade omitida), é outro que gosta de trabalhar com fones. “Costumo ouvir música cerca de seis, sete horas por dia, mas isto não me atrapalha no serviço”, jura ele, que adora um pagode. No caso do cobrador, o maior problema é a saúde. “Em um exame que fiz, foi identificado uma queda da audição. Não sei se foi por causa dos fones, porque não procurei o médico para saber mais sobre isto”, afirma.

Alerta

A fonoaudióloga Viviane Chein diz que está liberado ouvir música no volume baixo. O problema é o tempo que os ouvidos estarão expostos e a intensidade do som. “As pessoas costumam colocar no último volume quando está passando a música preferida, por exemplo. Isto, ao longo do tempo, causa perda auditiva. A partir de 80 decibéis há um risco muito grande de prejudicar a audição. A partir de 100 decibéis, já lesa a cóclea (órgão dentro do ouvido responsável pela audição). O ideal é colocar num volume abaixo de 60 decibéis”, alerta. Ela explica que isto acontece porque os fones mantêm a pressão sonora toda nos ouvidos e eles ficam muito próximos da membrana timpânica (vulgo tímpano).

Problema Crescente

De acordo com a especialista, atualmente, de cada dez pacientes que atende, dois chegam devido a perda auditiva iniciada por deixar os ouvidos expostos a um som muito alto. “Dez anos atrás, esta demanda não existia”, compara.

Dica

Para saber se o volume está além do ideal, Vivian dá uma dica bem prática. “Uma forma de medir se o volume está alto é ver se a pessoa está conseguindo ouvir o que está ao meu redor. Se ela não conseguir, é porque está alto demais. Não é indicado usar um volume tão alto a ponto de a pessoa conseguir se isolar do que está acontecendo ao seu lado”, ensina.
 

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