Fora do Eixo se destaca na produção cultural independente

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
15/01/2013 às 10:40.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:38
 (Facebook/Reprodução)

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O ano de 2012 foi muito especial para o movimento sociocultural Fora do Eixo. Assumiu a administração de dois portais – Overmundo e Toque no Brasil – e conquistou uma importante aproximação com o Ministério da Cultura (MinC), depois da posse de Marta Suplicy no comando da pasta. Foram ainda fundamentais para a repercussão do movimento "Existe Amor em SP", peça-chave na eleição de Fernando Haddad em São Paulo.

Isso mostra como uma proposta alternativa e colaborativa de democratização e descentralização da cultura pode, sim, dar certo. Para quem ainda não sabe, o Fora do Eixo é uma reunião de coletivos culturais de várias partes do país (do Acre ao Rio Grande do Sul). É uma plataforma de trocas de experiências e conhecimento, além de uma soma de esforços para a sustentabilidade de atividades culturais.

"Tudo que vem acontecendo é consequência de um trabalho que vem sendo desenvolvido há alguns anos", afirma o mato-grossense Pablo Capilé, um dos criadores e líderes do movimento. Ele foi uma das primeiras pessoas a serem recebidas por Marta Suplicy logo após a posse da ministra da Cultura, em setembro.

Para ele, a reunião com a ministra foi a prova de que o ministério estava pronto para romper com a gestão de Ana de Hollanda, tão criticada pelo Fora do Eixo e por vários outros movimentos. "A Marta tem dialogado conosco e demonstrado um desejo e uma capacidade de ouvir. Ela mostrou que quer uma diversidade cultural, entende a necessidade de criar novas políticas para a gestão do ministério", diz.

Filme com Dilma

A aproximação foi tão boa que Capilé conseguiu articular com a ministra uma reunião, poucos dias depois da posse, com cerca de 250 jovens ativistas socioculturais de todo país. Além disso, em dezembro, Marta e Vânia Catani, produtora de "O Palhaço", incluíram Capilé na seletíssima lista de 15 pessoas que assistiriam ao filme de Selton Mello no Palácio da Alvorada com Dilma Rousseff.

Foi a oportunidade perfeita para que o Fora do Eixo fosse formalmente apresentado para a presidente. "Apresentei a ela as demandas do movimento, falei sobre a necessidade de valorizar a cultura como pauta prioritária", conta Capilé.

Festival Grito Rock foi ampliado para 300 cidades de 30 países

Se houve um reconhecimento do MinC é porque o Fora do Eixo tem permitido uma intensa ampliação de suas atividades culturais. A edição 2013 do festival musical Grito Rock acontecerá em 300 cidades de 30 países, enquanto a Rede Brasil de Festivais e o Seda (Semana do Audiovisual) terão mais de cem edições. O movimento vai se conectar ainda a uma Rede Global de Música, com parceiros de cerca de cem países.

Assumir o Overmundo (portal colaborativo criado pelo antropólogo e pesquisador musical Hermano Vianna) também foi uma passo importante. "O site precisava de uma rede que lhe desse vivacidade, enquanto o Fora do Eixo precisava de uma plataforma que desse visibilidade ao conteúdo produzido pela rede", afirma Capilé. O Overmundo ganhará novo formato, que está sendo desenvolvido coletivamente por agentes de várias partes do país.

Hoje, cerca de 2000 pessoas trabalham para o movimento – aproximadamente 70% em dedicação exclusiva. Além dos coletivos parceiros, existem algumas Casas Fora do Eixo (em 2012 foi inaugurada uma em Belo Horizonte, localizada no bairro São Lucas, com 13 moradores) onde pessoas moram, trabalham, estudam e produzem conhecimento – especialmente na Universidade Livre Fora do Eixo, um modelo alternativo ao acadêmico tradicional.

A Casa Fora do Eixo São Paulo passou em 2012 por um fato inédito: a chegada do pequeno Benjamim, filho de uma integrante do movimento. Mais um diferencial para um espaço onde as pessoas dividem o dinheiro, o trabalho, a rotina.

"Quem está do lado de fora tem dificuldade em entender que as casas são grandes, a intimidade é respeitada e as pessoas estão sempre viajando. Quem chegar perto verá que quem mora nesse ambiente não conseguiria mais morar numa casa tradicional", explica Capilé, morador da Casa Fora do Eixo São Paulo.

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