(Paris Filmes/Divulgação)
Isabelle Huppert sempre se pautou por personagens complexos e contraditórios, provocando no espectador um sentimento entre a cumplicidade e o desprezo, especialmente em títulos como “A Pianista” e “Elle”. Em “Frankie”, cartaz a partir de hoje nos cinemas, a atriz francesa tem uma função muito diferente, deixando de ser o agente provocador.
Huppert continua sendo o núcleo em que os demais personagens orbitam, mas de uma maneira quase impassível e indolor. Curiosamente, essa mesma inércia tem seus efeitos perversos. Atriz famosa com um câncer terminal, Frankie convida familiares e amigos para o que seria uma despedida em Sintra, uma simpática cidade portuguesa.
Apesar do clima amistoso, a morte anunciada mexe com todos direta ou indiretamente. O filme promove uma sucessão de encontros pelas ruas de Sintra, com os personagens pondo em questão, principalmente, o futuro. Curiosamente, eles estão sempre em dupla, em longos planos, como se, naquele momento e lugar, falar fosse um privilégio.
A primeira constatação é essa: a fruição das conversas, que jamais são interrompidas por qualquer advento. Os personagens falam até o limite, como se fossem convidados justamente para este fim, sem nada mais importar. Num raro instante de silêncio, ao final, quando são vistos à distância, eles se tornam, de alguma forma, insignificantes.
Artificialismo
Ao mesmo tempo, há um certo artificialismo, na forma como essa fala livre é permitida. Igual a um teatro. Embora alguns convidados ressaltem o fato de darem um hiato em suas carreiras para estarem com Frankie, o encontro não deixa de ser um grande enredo a estampar o caráter solene que essa despedida gera.
Mais do que o adeus de Frankie, o filme de Ira Sachs oferece outros desligamentos, como se os personagens – todos eles acima dos 40 anos – estivessem numa espécie de limiar, em que o futuro parece confuso. Um artifício usado pelo roteirista e diretor para ampliar esta perturbação é a diversidade de origens e línguas.
Há personagens (e atores, entre eles Marisa Tomei e Brendan Gleeson) dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França e de Portugal. O fato de a história se desenvolver em terras portuguesas pode ter relação com o fado que ouvimos em determinada cena. Uma das temáticas desta música é o destino, voltada para “almas que sabem escutar”.