Em entrevista coletiva, diretores da instituição explicaram os desafios técnicos e burocráticos para repor o quadro de professores e garantiram a formação dos alunos matriculados
O Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) não vai acabar e nem sofrerá corte de verbas, estando preservada a formação dos alunos já matriculados. Essas foram algumas das garantias dadas pela Fundação Clóvis Salgado (FCS) em entrevista coletiva para a imprensa nesta quinta-feira (1º). Em face à deficiência atual no quadro de professores do curso do teatro, que vem motivando reiterados protestos dos alunos, a diretoria da instituição mantenedora do Palácio das Artes explicou os desafios técnicos e burocráticos para repor o número de profissionais.
De acordo com a diretora de Planejamento e Finanças da FCS, Kátia Carneiro, a deficiência é tópica, incidindo somente sobre o curso do teatro, e foi motivada por cinco baixas não previstas que aconteceram depois do início do ano letivo. "Nós tivemos uma recomposição no quadro de profesosres para dança e música em janeiro deste ano, quando abrimos processo de designação para a contratação de 21 novos professores, sendo que 18 já tomaram posse. Nesse edital. não havia previsão de professores para teatro, porque até o fim do ano o quadro de professores do curso estava completo. Mas no final de fevereiro nós tivemos três pedidos de aposentadoria, seguidos por dois pedidos de exoneração, todos de professores do teatro. Assim, dos dez professores do curso, cinco saíram", explica a diretora. "Diante dessa situação, encaminhamos a recomposição dos dois exonerados que, como já desocuparam o cargo, podem ser repostos mais rapidamente. Esperamos publicar o edital na semana que vem", completa.
Sobre a baixa deixada pelos três professores que pediram aposentadoria, Carneiro explica que a recomposição é mais demorada por demandar processos burocráticos próprios da administração público. "Esses três profissionais estão em afastamento preliminar de aposentadoria. Ou seja, continuam ocupando o cargo de professor e só podem ser repostos após todo o processo de aposentadoria", afirma, apontando os porquês da demora do processo. "É um processo próprio da vida funcional. Estamos analisando 30 anos de trabalho desses servidores e fazemos isso com cautela e segurança, já que tratamos de um benefício permantente. Não podemos nos arriscar a gerar qualquer tipo de prejuízo a essas três vidas funcionais de 30 anos de trabalho. A expectativa é que esse processo seja finalizado por volta de outubro deste ano e, logo depois disso, vamos abrir outro edital de designação para preencher essas três vagas. Assim, devemos começar 2018 com o quadro de professores do curso de teatro totalmente reposto", completa.
Carneiro ressalta que as baixas representaram prejuízos apenas para os alunos do primeiro e do segundo ano de teatro, sendo que os alunos do terceiro ano não tiveram qualquer dano. "Isso representou falta de aula para o primeiro periodo, num dia da semana, que é a sexta-feira. Nos outros quatro eles têm aula normal. No segundo período, uma disciplina também ficou sem um dos professores", sublinha, afirmando que outras alternativas foram criadas para fomentar a formação dos alunos. "Criamos uma residência artística que hoje tem 20 bolsistas. Também foi feito um investimento, em julho do ano passado, de mais de um milhão de reais, para viabilizar outras vagas e ofertas, sendo que serão abertas mais 500 vagas para novos cursos, como de cenografia e arte negra. Além disso, foram feitas melhorias de infraestrutura. Desativamos áreas administrativas para melhor abrigar os alunos em espaços mais amplos e confortáveis, sem contar a aquisição de carteiras e televisões", lista.
Diretora do Cefart, Cibele Navarro refuta outra queixa dos alunos: a de que não haveria um canal aberto de diálogo entre eles e a diretoria da FCS. "Eu jamais deixei de comparecer a qualquer chamado dos alunos quando fui solicitada. Isso, inclusive, é algo que tenho muito orgulho da minha gestão. As reuniões entre eles e a escola são constantes", afirma. "A diretoria também fez duas reuniões com os alunos. Uma em abril, quando constatamos que as baixas impactariam no curso de teatro, e outra recentemente. O que vemos é uma dificuldade normal de quem não é da administração pública em entender esses processos burocráticos, mas sempre nos colocamos à disposição para explicar", completa Carneiro.
As diretoras garantem que a notícia de que o Cefart pode acabar não passa de mera especulação. "Não há qualquer redução orçamentária-financeira, todos os recursos estão garantidos. É um temor sem motivo", afirma Carneiro. "Também não vai haver corte de horas de aula, essa é uma conversa que nunca existiu. A partir do momento em que o aluno entra numa instituição escolar, essa instituição deve garantir a conclusão do curso. Não existe a possibilidade de os alunos já matriculados não fecharem a grade curricular ou não obterem as horas-aula que precisam para formar", completa Navarro.
Insatisfeitos
Para os alunos do Cefart, organizados no movimento "- Palácio + Artes", as explicações não resolvem o problema. "A gente sabe que essas coisas têm dimensão politica. Entendemos que a Fundação já esgotou suas possibilidades, mas não vemos proatividade e vontade política por parte da diretoria em levar a questão para outras instâncias", afirma Bremmer Guimarães, do segundo ano do curso de teatro, admitindo que a FCS realmente faz reuniões sistêmicas com os alunos. "As reuniões acontecem, mas têm sempre com o mesmo conteúdo. Eles explicam essas questões burocráticas, mas nunca vão além disso", completa.
Para Tomás Sarquis, do primeiro ano de teatro, os próprios editais de designação mostram uma falta de entendimento da diretoria para com o fazer artístico. " É papel da Fundação entender o processo artístico, primando pela qualidade do ensino. Se entendessem o que acontece na escola, saberiam que o processo artístico não se resolve na forma de uma conta matemática que encaixa professores em horários vagos", critica, enfatizando que os editais convocam professores para lecionarem duas ou mais discliplinas. Os alunos ressaltam, ainda, que o movimento pleiteia uma reunião com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, para tratar do assunto, ainda que a FCS não seja subordinada ao Estado.