Geneton Moraes Neto recorre aos anos 70 para ilustrar um pouco de seu dia a dia após o lançamento do elogiado documentário “Garrafas ao Mar”, sobre a vida do jornalista Joel Silveira (1918-2007). “Sabe aquele conceito de circuito universitário, que era moda à época, e que os cantores percorriam com o violão debaixo do braço? Guardadas as devidas proporções, é mais ou menos isso”, brinca.
O jornalista se refere ao motivo que o traz hoje à capital mineira: debater sobre o tema “A Crise no Texto do Jornalismo” – às 19h30, no Teatro João Ceschiatti, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537). O que o tem levado de volta ao tal “circuito universitário”, posto que estudantes de jornalismo são um dos públicos-alvo do debate.
“Ao mostrar a vida de um expoente do jornalismo de alta qualidade (Joel), pergunto: o que mudou a ponto de pensar que textos como os dele não seriam aceitos nos jornais de hoje?”. Mas não, Geneton esclarece que não quer ficar pontificando, ou adotar ares professorais. “Quero jogar fagulhas no ar”. Trocando em miúdos, ele se pergunta porque não pensar (e sonhar) com um jornalismo “mais vivo, mais interessante”. “Se é fato que os jornais impressos estão passando por um tsunami, não seria a hora de fazer um jornalismo mais autoral?”
"Mediocrização"
Geneton lança essas perguntas (fagulhas) por entender que houve “uma mediocrização generalizada do texto jornalístico”. E volta aos anos 60/70, ao estigma de um período marcado por “líderes medíocres”, como Leonid Brejnev, na antiga URSS; Richard Nixon, nos EUA; e Paulo VI no lugar de João XXIII, no Vaticano. Estaríamos vivendo uma nova “Era Brejnev”. É contra a mediocridade, a acomodação, que se ergam barricadas.
Mas, vale frisar, sem adotar a postura de “velho jornalista, do antigo”. Nada de ficar atacando a internet, desqualificado-a. “Acho que a gente deve acender uma vela ao Bill Gates, ao Steve Jobs, que nos prestaram um grande serviço. Nunca houve tanta informação circulando. A notícia boa é que sempre vai ser preciso alguém para hierarquizar e traduzir essa informação. Agora, como isso vai ser feito, não tenho ideia. Não sou pessimista, mas crítico, e acho que essa nova ‘era Brejnev’ se estende à música, ao cinema. Uma era cinzenta, sem alma”.