‘Grace Kelly’ não, Gracinha

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
08/03/2014 às 08:32.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:30
 (Facebook/Reprodução)

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Quando o público pediu, em coro, para Gracinha Sertaneja tocar “Caiu o Palco, o Palco Caiu”, clássico da dupla Léo Canhoto e Robertinho, a cantora e compositora de Ipatinga não pensou duas vezes: mandou brasa. Problema foi que a empolgação da moça foi tal que o que era para ser só música virou realidade – e o palco desabou.    “Saí rolando palco abaixo. Não tinha visto um buraco no chão, meti o pé lá dentro e tudo caiu. Ah, minha filha, só lembro do povo rindo – porque, nessas horas, o melhor é rir, né? Enquanto tentava levantar, eles começaram a cantar ‘na hora que a Gracinha no palco subiu, o palco caiu’. Senhor da glória, ri demais”, lembra. E ainda ri, distribui gargalhadas gratuitas até hoje.   Na época, Gracinha tinha pouco mais de 25 anos, era ainda nova na carreira de artista – um sonho que alimentava desde criança e que só conseguiu realizar depois do divórcio. “Eu tive que me separar porque mulher casada não podia tocar viola em público assim não. Aquilo me prendia e muita gente não entendia que a música, na minha vida, era tudo”, explica.   “Armazém da Viola”   Nesse 2014, Gracinha celebra 50 anos de idade – 25 deles dedicados à música. E uma das primeiras cidades a receber as comemorações da cantora é Virginópolis. A apresentação, dentro do projeto “Armazém da Viola”, acontece neste domingo (9), no Parque de Exposição da cidade, a partir das 17 horas. Na ocasião também serão celebrados os 91 anos de emancipação do município. Outros artistas, como a dupla Luiz Henrique e Marcos Viola, também fazem show no local.   “Eu sempre fui apaixonada por sertanejo, mas não é desse que toca hoje, não. Esse que se diz evoluído e que atingiu o mercado. Eu gosto é da música de raiz. Sabe Chitãozinho & Xororó antigo? Pois é disso que eu gosto!”, conta.    1,55 metro de gracinha   Em 1986, ela compôs sua primeira canção (“Você me fez falta”) e só quatro anos mais tarde começou a tocar violão. Para fazer o primeiro show, não tardou. “Foi durante um comício, na década de 1990, para cerca de três mil pessoas. Não recebi um tostão sequer. Naquele dia, só queria tocar e fiquei por demais satisfeita quando o povo aplaudiu”, recorda.   Minutos antes de subir ao palco, inclusive, Gracinha ainda não tinha escolhido o nome artístico. “Não era legal eles anunciarem: ‘Maria das Graças Almeida’, né? Foi então que uma amiga sugeriu ‘Grace Kelly’. E foi com esse nome que me apresentei pela primeira vez. Depois não deu, não era a minha cara... Eu, com meu 1,55 metro de altura, não podia ter um nome daqueles. Então virei só Gracinha. A ‘Gracinha Sertaneja’”.   ‘Valeu cada noite sem sono, e não foram poucas’   Fato, no entanto, é que escolher o nome artístico acabou sendo a parte mais fácil da história. Nas mais de duas décadas de estrada, Gracinha se deparou com uma série de percalços. Para citar alguns exemplos, tomou calote de empresários, perdeu as contas de quantas vezes empurrou carro empacado depois dos shows, infiltrou-se em panelinhas para conseguir ganhar destaque e respeito no meio artístico e por fim (finalmente!) gravou um disco, batizado “Minha História”.    “Isso já faz uns oito anos. Foi gravado na garra, com o apoio e o dinheiro de muitos amigos. São 11 faixas autorais, deu um trabalho danado, mas valeu a pena cada noite sem sono. Não foram poucas”, garante ela para completar em seguida: “Olhando pra trás, eu lembro de tanta coisa que pode parecer boba, mas que me trouxe até aqui. Agora mesmo, não me sai da cabeça uma noite que fui tocar em uma cidade e precisei dormir no terraço da prefeitura porque o lugar era tão pequeno que nem tinha hotel... Naquela noite, chovia tão fininho e o lençol que eu tinha levado era mais fino ainda. Tudo era fininho naquela noite”.    Gracinha segue lembrando que ela e músicos se esconderam sob a caixa d’água. “Ficamos olhando o céu até dormir. E sabe por que não me arrependo? Porque era exatamente o lugar onde precisava estar. Foram lugares como esse que me trouxeram para hoje, ao que sempre sonhei”, conta, emocionada, Gracinha, sertaneja, mãe de Leonardo e Sônia, avó do pequeno (e “lindo”, completa) Nathan. (CC) l

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